quinta-feira, 28 de agosto de 2014

VETO PRESIDENCIAL À CRIAÇÃO DE MUNICÍPIOS: Presidente Dilma alegou ‘falta de critérios’ na proposta que compromete a responsabilidade fiscal

Dilma veta novamente regras para criação de municípios e provoca reações entre senadores e deputados

Plenário de votação do Senado Federal, em Brasília (DF). Waldemir Barreto - Arquivo/ Senado.

Com informações da Agência Câmara e Agência Senado

BRASÍLIA (DF) - A presidente da República, Dilma Rousseff, vetou integralmente proposta que regulamenta a criação de municípios, aprovada no Senado no início do mês. É o segundo veto integral de Dilma a projetos sobre esse tema.

O Projeto de Lei Complementar 397/14, do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), aprovado pela Câmara dos Deputados em junho, foi feito após um acordo com o governo para tornar mais rígida a criação de municípios e facilitar a fusão daqueles inviáveis financeiramente. A necessidade de entendimento surgiu após o veto integral de Dilma a outro texto (PLP 416/08), também de Cavalcanti, sobre o mesmo tema, em outubro de 2013. Esse veto ainda precisa ser apreciado pelo Congresso.

À época, a Presidência da República manifestou preocupação com o aumento do número de municípios e das despesas decorrentes.

Responsabilidade fiscal
A presidente reconhece, na justificativa do veto, o esforço para construir um texto mais “criterioso”, com regras para criar municípios. Porém, segundo o governo, “a proposta não afasta o problema da responsabilidade fiscal na Federação”.

Conforme Dilma, a proposta geraria aumento de despesas com os municípios sem receita correspondente. “Mantidos os atuais critérios de repartição do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), o desmembramento de um município causa desequilíbrio de recursos dentro do estado”, afirmou na mensagem enviada ao Congresso.

Agora, o assunto se juntará a uma pauta com outros 35 vetos presidenciais à espera de exame pelo Congresso, inclusive o que rejeitou o projeto anterior de Mozarildo. A derrubada de um veto depende do aval de 257 deputados e 42 senadores.

Existem no País 5.570 municípios. Os cinco mais recentes foram criados em 1º de janeiro de 2013: Balneário Rincão (SC), Mojuí dos Campos (PA), Paraíso das Águas (MS), Pescaria Brava (SC) e Pinto Bandeira (RS).

Deboche
O relator do substitutivo aprovado pela Câmara, deputado Moreira Mendes (PSD-RO), disse que o veto é um "deboche" de Dilma com o Congresso. “Duas vezes a mesma coisa. Ou será que ela não respeita negociação? A matéria foi negociada com os líderes do governo, tanto da Câmara quanto do Senado, por isso estou dizendo que é deboche”, declarou.

Mendes falou que batalhará para garantir a derrubada do veto. “Se tem uma pessoa que vai virar o mundo para derrubar o veto serei eu daqui para frente.”

Ajuste fiscal
Já o deputado Silvio Costa (PSC-PE) elogiou o veto e defendeu que a decisão mostrou responsabilidade fiscal. “A presidente mostra, com isso, que é preocupada com o ajuste fiscal. Foi um veto que sinaliza, sim, responsabilidade pública”, comentou. Costa afirmou que a decisão de Dilma evitou criar mais um ralo de corrupção do Brasil e que o projeto era “esdrúxulo”.

De acordo com o parlamentar pernambucano, nunca houve acordo com o governo. “A presidente jamais sinalizou que era a favor da criação de novos municípios”, sustentou. Segundo ele, a articulação foi feita pelos presidentes do Senado e da Câmara.

Estaca zero
Para o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, a discussão sobre criação, extinção, fusão e incorporação de municípios volta à estaca zero. “Continua tudo como já estava há mais de 15 anos, ou seja, não existe a lei complementar”, afirmou, em relação à Emenda Constitucional 15, de 1996, que transformou a competência estadual de criar regras de alterações dos municípios para uma lei complementar federal.

O líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), e o líder do PT, deputado Vicentinho (SP), não retornaram as ligações da reportagem para comentar o veto.

 

Veto de Dilma às regras para criação de municípios divide deputados e senadores

O veto da presidente Dilma Rousseff às regras sobre criação de municípios (PLS 104/2014 – complementar) provocou reações diferentes em senadores e deputados. O senador Anibal Diniz (PT-AC) classificou o veto como “lamentável”. Ele disse que a decisão revela a falta de diálogo entre o Executivo e o Legislativo. Anibal lembrou que em outubro do ano passado já havia ocorrido um veto em projeto de mesmo teor (PLS 98/2002). Assim, disse o senador, um novo projeto foi elaborado, como “fruto de um entendimento com o governo”.

- Simplesmente não entendemos o porquê, depois desse esforço empreendido, a presidente se manter na posição de vetar o projeto – declarou o senador.

Do zero
Para Anibal, o veto revela “a supremacia do Executivo” na formação do Estado brasileiro. Ele disse que agora o processo terá de começar do zero. O senador afirmou que há um “prejuízo tremendo” para as localidades que já apresentam condições de se tornarem municípios. A criação de novos municípios, disse Anibal, é uma forma de garantir direitos para os cidadãos.
- É preciso fazer com que o poder público chegue a essas localidades. E se não tem os municípios constituídos fica muito difícil um serviço público de qualidade chegar a esses locais – lamentou Anibal, acrescentando que a chance de derrubada do veto seja “muito pouco provável”.
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, concorda com Anibal. Para Ziulkoski, a discussão sobre criação, extinção, fusão e incorporação de municípios “volta à estaca zero”. O relator do substitutivo aprovado pela Câmara, deputado Moreira Mendes (PSD-RO), disse que o veto é um "deboche" de Dilma com o Congresso. O deputado chegou a perguntar se Dilma “não respeita negociação”. Ele ainda lembrou que a matéria foi negociada com os líderes do governo, tanto da Câmara quanto do Senado. Mendes afirmou que batalhará para garantir a derrubada do veto.

- Se tem uma pessoa que vai virar o mundo para derrubar o veto serei eu daqui para frente – prometeu.

Já o deputado Silvio Costa (PSC-PE) elogiou o veto. Para o deputado, a decisão mostra responsabilidade fiscal e evidencia que a presidente tem responsabilidade pública. Costa afirmou que o projeto era “esdrúxulo” e que a decisão de Dilma evitou a criação de mais um ralo de corrupção no Brasil. De acordo com o parlamentar, nunca houve acordo com o governo.

- A presidente jamais sinalizou que era a favor da criação de novos municípios – declarou, acrescentando que a articulação foi feita pelos presidentes do Senado e da Câmara.
Elites locais
As regras para os novos municípios foram aprovadas pelo Senado no início de agosto, com o placar de 52 votos a favor e apenas 4 contrários. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), um dos que votou contra, elogiou a decisão da presidente Dilma.

- Da chefe suprema da Nação eu não esperava um ato diferente que não a responsabilidade com a coisa pública. O que é irresponsável é o projeto – afirmou Randolfe.

Para Randolfe, o país vive um momento que exige rigor com o gasto público e não seria responsável a possível criação de “quase 200 novos municípios”. Ele argumenta que um novo município exige a criação de prefeitura, câmara de vereadores e muitos outros órgãos – aumentando, assim, o gasto público. De acordo com o senador, é preciso encontrar outros caminhos para levar desenvolvimento às regiões mais pobres do país. Ele ainda aponta um possível uso político na criação de novos municípios.

- Esse projeto só serviria pra isto: atender às elites políticas locais – concluiu.

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