Caso seja eleita, ex-senadora Marina Silva deve colocar em xeque modelo de presidencialismo de coalizão
Fonte: Congresso Nacional/Brasília-DF. |
BRASÍLIA* - Com uma base no Congresso que
deverá ser semelhante à do ex-presidente Fernando Collor, a eventual eleição da
candidata do PSB, Marina Silva, deve pôr em xeque o modelo de presidencialismo
de coalizão que sustenta as relações do Executivo com o Legislativo desde a
redemocratização, em 1985, e deverá levá-la a uma dependência grande do PSDB.
Como há uma rejeição forte do grupo da
candidata ao PMDB, e o PT já sinaliza que migrará para a oposição se Marina for
eleita, a expectativa é que a sigla tucana integre o centro de forças de um
eventual governo da ex-ministra do Meio Ambiente, formando a terceira maior
bancada na Câmara dos Deputados, atrás de petistas e pemedebistas.
A agenda legislativa anunciada por Marina
até o momento reforça essa expectativa: ela pretende aprovar duas grandes
reformas constitucionais, a política e a tributária, que precisam do apoio de
ao menos 308 dos 513 deputados federais.
A “tucanodependência” de Marina tem ainda
outro motivo: o PSB tem boa interlocução com a sigla. São três os principais
nomes a fazer esta ponte. O deputado Márcio França (PSB), tão próximo do PSDB
que nesta eleição concorre como vice do governador Geraldo Alckmin; Walter
Feldman (PSB), atual coordenador da campanha da ex-ministra, ex-tucano; e
Roberto Freire (SP), presidente do PPS, antigo aliado do PSDB. Além deles, o
ex-governador José Serra (PSDB), que concorre ao Senado por São Paulo, é um
interlocutor no partido. A ex-ministra já declarou que gostaria de contar com o
apoio de Serra caso ele seja eleito.
Por meio do PSDB, outros partidos
poderiam aos poucos aderir a um eventual governo Marina e lhe dar a maioria que
ela precisa. Caso, por exemplo, do PSD de Gilberto Kassab. Secretário-geral do
partido, o ex-deputado Saulo Queiroz acha que o PSDB não terá outro caminho a
não ser apoiá-la e diz que a sua própria sigla poderia integrar sua base.
É do jogo. “Todo mundo que não está no
jogo da Dilma poderá fazer o jogo da Marina. Não mantivemos nenhum cargo no
governo Dilma. O único que temos é uma indicação pessoal dela, não do
partido.Até mesmo uma aproximação com o PSD é perfeitamente viável, por que
não?” Segundo Queiroz, compor maiorias no Congresso “não é difícil” com “uma
coisa em mãos chamada poder”.
Estimativa feita pelo Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a pedido do Estado, aponta que
Marina teria um apoio consistente de 80 a 120 deputados, no máximo, na próxima
legislatura. Esse seria o chamado “núcleo duro” da presidente, formado por
parlamentares eleitos pela coligação dela e de outros que passam a apoiar o
governo após as eleições. Marina também deve ter o apoio condicionado de 213 a
253 deputados. O Diap prevê que 180 deputados fariam oposição frontal a uma
gestão Marina. Os dados são semelhantes aos que Collor teve durante seu
governo, entre 1990 e 1992. Para a aprovação de um projeto de lei, são
necessários 257 dos 513 deputados. Para emendas constitucionais, são
necessários 308 votos.
Para o atual líder do PSB no Senado,
Rodrigo Rollemberg (DF), o debate de propostas com os congressistas num governo
Marina será em cima de “temas pactuados”.
Modelo Itamar. O modelo idealizado é o mesmo colocado em
prática pelo presidente Itamar Franco (1992-1994): escolhas pessoais para os
ministérios e maiorias eventuais para aprovar projetos. “Duvido que alguém vai
querer um ministério, uma emenda e que o governo vai pressionar alguém para
votar”, afirmou o senador Pedro Simon, líder do governo Itamar no Senado e
aliado de Marina. Ele citou como padrão de comportamento a aprovação das
propostas que culminaram na criação do Plano Real.
Entretanto, os críticos deste modelo lembram que o governo Itamar foi tampão e se deu antes da intensa polarização entre PT e PSDB na política nacional.
Entretanto, os críticos deste modelo lembram que o governo Itamar foi tampão e se deu antes da intensa polarização entre PT e PSDB na política nacional.
*João
Domingos, Ricardo Brito, Ricardo Della Coletta / - O Estado de S. Paulo
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