Após greve de geraizeiros, MPF e MPMG pedem criação
imediata da Reserva Sustentável (RDS) ‘Nascentes dos Gerais’ nos municípios de
Montezuma, Rio Pardo de Minas e Vargem Grande do Rio Pardo
Com FN Café NEWS e Ascom/MPF-MG
BELO
HORIZONTE (MG) – O Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF/MG), em
conjunto com o Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG), recomendou, nessa terça-feira (19), ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) a criação
imediata da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes dos Gerais.
A RDS
Nascentes dos Gerais deve abranger áreas dos municípios de Montezuma, Rio Pardo
de Minas e Vargem Grande do Rio Pardo, no Norte de Minas Gerais, onde vivem
comunidades geraizeiras, povos tradicionais que exercem atividades
extrativistas em regiões de cerrado.
Os
geraizeiros são assim chamados porque habitam os gerais - planaltos, encostas e
vales das regiões de cerrado. Bons conhecedores desse bioma e de suas espécies,
eles se adaptaram com sabedoria às características do cerrado e às suas
possibilidades de produção, fazendo uso sustentável do ambiente em que vivem.
Na verdade, a presença dessas comunidades tradicionais do cerrado tem sido
fator decisivo na proteção do meio ambiente onde exercem suas atividades.
Há cerca
de 12 anos, essas comunidades lutam pela criação de uma unidade de conservação
que possa garantir sua sobrevivência e impedir a deterioração do espaço em que
vivem e, em consequência, de seus modos de viver, criar e fazer, direito que
lhes é garantido pela constituição brasileira e por tratados internacionais,
entre eles, a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho,
segundo a qual, os países signatários “devem adotar as medidas necessárias para
identificar os territórios tradicionalmente ocupados pelos povos e comunidades
tradicionais, bem como para garantir seu acesso aos recursos naturais
existentes nas terras onde vivam”.
Em julho
de 2005, o procedimento para a criação da RDS foi instaurado no âmbito do
ICMBio, órgão responsável pela criação e gestão das unidades de conservação
federais.
Nove anos
depois, a RDS Nascentes dos Gerais ainda não saiu do papel, apesar do
agravamento, ao longo dos anos, das condições ambientais e de vida das
comunidades.
Greve de
fome - Diante
da ausência de medidas efetivas, no último mês de junho, os gerazeiros
iniciaram uma greve de fome e sede, suspensa 36 horas depois, após compromisso
assumido pela ministra do Meio Ambiente e pelo secretário geral da Presidência
da República, em reunião com a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério
Público Federal e com integrantes do movimento geraizeiro, de concluir o
processo de criação da reserva, enviando a proposta à Casa Civil até o dia 21
seguinte.
Acontece
que, novamente, a promessa não foi cumprida.
No dia 29
de julho, outra reunião foi realizada, com a presença dos Ministérios Públicos
Federal e Estadual, desta vez na sede administrativa do governo mineiro, em
Belo Horizonte/MG.
Na
ocasião, o ICMBio reconheceu que havia sinalizado ao movimento geraizeiro que a
Reserva de Desenvolvimento Sustentável seria a modalidade de unidade de
conservação mais adequada às finalidades pretendidas por aquelas comunidades
tradicionais. No entanto, segundo a recomendação, deu-se início a uma
rediscussão acerca da natureza da unidade de conservação, o que, na prática,
“procrastina sua implantação e frustra os princípios da boa-fé objetiva e da
confiança legítima na ação estatal”.
Na semana
passada, em 11 de agosto, o governo mineiro apresentou levantamento fundiário
da área de 38 mil hectares prevista para a implantação da RDS. Para os
Ministérios Públicos Federal e Estadual, esse levantamento “ainda depende de
melhor detalhamento, processo que demandará longo tempo, o que evidencia a
necessidade de decretar-se desde logo a criação da RDS para, em seguida, serem
finalizados os estudos fundiários, única maneira de evitar danos irreparáveis
às comunidades tradicionais que pleiteiam a implementação da unidade de
conservação”.
O ICMBio
terá prazo de 10 dias para enviar relatório documentado sobre as providências
adotadas para dar cumprimento à recomendação.
Assinam a
recomendação os procuradores da República Edmundo Antônio Dias e Marcelo
Malheiros Cerqueira e os promotores de Justiça Paulo César Vicente de Lima,
Carolina Cerigatto, Daniel Castro e Melo, Daniel Oliveira de Ornelas e Carlos
Eduardo Ferreira Pinto.
Clique aqui para ter acesso integral à Recomendação.
Povos tradicionais de MG fazem greve de fome por criação de reserva sustentável
Com Agência Brasil/ Paulo Victor Chagas 04.06.2014
– Adaptações FN Café NEWS
ALTO DO RIO PARDO - Na véspera do Dia
Mundial do Meio Ambiente, cerca de 120 pessoas de comunidades tradicionais e
extrativistas vieram do norte de Minas Gerais a Brasília para reivindicar a
criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes dos Gerais. A
região possui 37 mil hectares e tem sido alvo de desmatamento e exploração de
empresários, o que tem destruído nascentes de água e plantações, de acordo com
os representantes das comunidades.
Dezesseis manifestantes começaram greve
de fome e de sede na tarde de hoje (4) na Praça dos Três Poderes, em frente ao
Palácio do Planalto, e afirmam que só vão voltar a comer e beber quando o
decreto com a criação da RDS for assinado pela presidenta Dilma Rousseff. No
fim da tarde, representantes do movimento iniciaram uma reunião no palácio com
o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e com o
presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
Roberto Vizentin. O encontro já dura mais de duas horas.
As nove comunidades abrangidas pela
região onde pode ser criada a RDS pertencem a três municípios mineiros
(Montezuma, Rio Pardo de Minas e Vargem Grande do Rio Pardo) e abrigam ao todo
500 famílias. “Para morrer de sede lá, a gente fez a proposta de vir morrer
aqui, se for o caso”, disse Maria Lúcia Agostinho, da comunidade Água Boa 2, que
fica em Rio Pardo de Minas. Ela veio com a família e relata que apenas duas
nascentes ainda não secaram.
“O que mais machuca é que as áreas onde
as empresas degradaram, não têm mais água. Eles mesmos pegam um [caminhão] pipa
e vão buscar água lá onde nós preservamos. Isso é que é o absurdo, para
abastecer as empresas”, contou a agricultora, que também trabalha com
extrativismo e artesanato com argila, cipó e palha.
Segundo Carlos Dayrell, que faz parte do Centro
de Agricultura Alternativa e apoia o movimento, a luta para a criação da RDS
Nascentes dos Gerais começou há 12 anos, com a participação do ICMBio. “Há mais
de dois anos esse processo foi finalizado [aguardando o decreto] e as
comunidades estão precisando entrar com o próprio corpo, com filhos e esposos,
na frente das máquinas. Já estamos no limite”. Segundo ele, cinco rios são
abastecidos pelas nascentes na única área preservada de Cerrado que sobrou na
região.
Empresas de produção de eucalipto, carvoarias
e fazendeiros têm sido impedidos pelas comunidades tradicionais de expandir as
áreas tomadas, segundo os representantes do movimento, que engloba apanhadores
de flores, vazanteiros, veredeiros, caatingueiros, quilombolas e indígenas.
Além do decreto, o movimento também pede
a negociação da Pauta dos Povos e Comunidades Tradicionais dos Cerrados
Brasileiros.
De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria-Geral, Carvalho pediu um prazo de 48 horas para dar uma resposta sobre o decreto. Até o fechamento desta reportagem, o ICMBio não havia se pronunciado sobre as reivindicações.
De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria-Geral, Carvalho pediu um prazo de 48 horas para dar uma resposta sobre o decreto. Até o fechamento desta reportagem, o ICMBio não havia se pronunciado sobre as reivindicações.
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