No 'Minha Casa', falhas em todas as obras
vistoriadas
TCU fiscalizou 416 casas, em cinco Estados, e encontrou
'vícios construtivos que dificultam ou inviabilizam o uso das moradias'
André Borges - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Casas sem portas e
revestimento interno, ocorrências de afundamento de piso, rachaduras nas
paredes e por aí vai. A lista de problemas encontrados em auditorias realizadas
em unidades habitacionais do Programa Minha Casa, como revelou ontem o 'Estado',
explica por que o Tribunal de Contas da União (TCU) pressiona o Ministério das
Cidades, responsável pelo programa, a melhorar a fiscalização e o processo de
acompanhamento das obras pelo País.
Em Lajes (RN), vazamentos hidráulicos e
ligações clandestinas de energia. Na baiana Irará, buracos nas paredes de
sustentação das lajes.
Em Jatobá (MA), instalações elétricas em
situação precária. O TCU visitou dez municípios nos Estados da Bahia, Maranhão,
Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Norte. Ao todo, foram inspecionadas 416
casas.
O objetivo era checar a qualidade das
obras executadas no programa na vertente que atende a municípios de até 50 mil
habitantes e famílias com renda até R$ 1.395 mensais.
A auditoria apontou que 100% das obras
apresentaram problemas de qualidade por causa de "vícios construtivos que
dificultam ou mesmo inviabilizam o uso pleno da moradia pelo
beneficiário". Em alguns casos, segundo os auditores, há "risco a
segurança ou a saúde do morador".
UPAs. Problemas estruturais básicos também
foram encontrados nas unidades de pronto atendimento (UPAs 24 Horas), programa
vinculado ao Ministério da Saúde. Nas 26 UPAs visitadas em 11 municípios, os
auditores encontraram quatro situações em que as unidades sequer tinham o
"habite-se", documento que autoriza o funcionamento do local. "A
ausência de habite-se configura descumprimento à legislação municipal (...) e
impossibilita a confirmação se essas unidades foram construídas conforme as
exigências técnico-legais necessárias", informa o relatório do tribunal.
Os auditores acharam trincas nas paredes
em Formosa (GO) e infiltrações graves nas unidades de Belém (PA) e Porto Velho
(RO). A missão das UPAs é ajudar a reduzir filas nos prontos-socorros de
hospitais ao prestar atendimento de casos clínicos agudos e o primeiro
atendimento em situações de cirurgia ou trauma de pacientes antes do hospital.
Questionado sobre os problemas
encontrados no programa habitacional, o Ministério das Cidades informou, por
meio de nota, que a fiscalização da modalidade auditada pelo TCU cabe aos
bancos intermediadores dos repasses, além dos Estados e municípios que
solicitaram os recursos. "É responsabilidade dos entes públicos, na
qualidade de proponentes das operações, prover toda a infraestrutura necessária
ao empreendimento e aprovar os projetos." O ministério disse, ainda, que
cabe aos bancos firmar os termos de compromissos, atestar a viabilidade técnica,
jurídica e documental dos empreendimentos, além de acompanhar a execução da
obra até a conclusão, mediante termo de entrega e emissão do 'habite-se'.
Sobre as UPAs, o Ministério da Saúde
afirmou, em nota, que a liberação de recursos para a construção das unidades só
é feita à medida que os municípios ou Estados comprovam o andamento da obra.
"A execução das obras, incluindo a contratação das empresas, é de
responsabilidade dos gestores municipais ou estaduais", informa.
Para melhorar o controle sobre os projetos,
o ministério afirma que criou, em 2012, um novo sistema de monitoramento.
"O município ou Estado que não atualiza no sistema as informações por mais
de 60 dias consecutivos pode ter o repasse dos recursos suspenso pelo
Ministério.
Outra medida adotada foi a oferta de
projetos de arquitetura padronizados para a construção das UPAs. "Em casos
de desconformidades ou problemas na estrutura das unidades, o Ministério da
Saúde estabelece prazo para adequação. Caso a situação não seja solucionada,
pode haver a exigência da devolução de parte proporcional dos recursos
investidos."
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