Brasil 2015: a metodologia dos planos de governo
Por Luis
Nassif*
Um Plano Nacional é o coroamento de um
processo de amadurecimento da sociedade, dos diagnósticos e das formas de ação.
É ele que assegura a continuidade de políticas públicas, independente do
governante de plantão.
Por exemplo, nenhum candidato vai falar
nada sobre educação que não esteja no PNE (Plano Nacional de Educação). É um
conjunto de vinte estratégias, metas, cada qual com um leque de estratégias
para seu atingimento no prazo de dez anos.
Formulador das políticas mais expressivas
das últimas décadas, o ex-Ministro da Educação e atual prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad, descreve sua metodologia – que deveria se tornar padrão na
administração pública.
Primeiro Passo – conversar com todo mundo
para desenhar o plano.
Quem têm acesso ao Ministério são os
aliados. O Ministério tem que se abrir para todos. Haddad conversou com Cláudio
Moura Castro, com João Baptista Araújo (educador e anti-petista radical ligado
ao Instituto Millenium), com Magda Soares (da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação). A Secretária de Educação de Minas Gerais
não queria, Haddad foi atrás. Com esse leque de consultas, nenhum tema passou
despercebido.
Segundo Passo – vender o plano para
dentro do governo.
O Plano de Desenvolvimento da Educação
foi lançado em 2007. Lula foi ganhando consciência da importância de fazer uma
revolução na educação. O investimento público era de menos de 2% do PIB.
Reeleito, Lula encomendou um plano abrangente de educação. Haddad perguntou o
limite orçamentário. “Suas pernas vão determinar o tamanho desse programa”, foi
a resposta. Quando o plano foi apresentado, a área econômica pulou da cadeira.
Tiveram a mesma reação que no PNE que foi levado à sanção de FHC em 2001. FHC
acabou vetando todas as metas mais ousadas. Lula bancou.
Terceiro Passo – criar a legislação
necessária.
Para montar o Pronatec (Programa Nacional
de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Institucional), por exemplo, foi
necessária a reforma do sistema S em 2008. Desde o começo dos anos 80 vinha
caindo a gratuidade do sistema, a ponto de zerar no Senac. Todos foram chamados
à mesa de negociação. Hoje, 2/3 dos recursos do sistema S são obrigatoriamente
investidos em gratuidade.
O Governo FHC tinha proibido por lei a
criação de novas escolas técnicas federais. A lei teve que ser mudada. Antes
havia 140 escolas técnicas; hoje, são 577, 407 das quais criadas em doze anos.
Quarto Passo – buscar parcerias e formas
de coordenação de esforços.
Uma das meta era construir 214 escolas
técnicas. A estratégia foi chamar todo mundo que poderia participar do
trabalho. O roteiro de trabalho foi o seguinte:
1. Definição da cidade vocacionada. E
doação dos terrenos pela prefeitura.
2. Desenvolvimento pelas Universidades do
projeto pedagógico aderente ao APL (Arranjo Produtivo Local) local.
3. O projeto arquitetônico. Os Reitores
acabaram padronizando 3 ou 4 projetos que serviram para Brasil inteiro.
4. As escolas foram agrupadas em torno
dos Instituto Federais existentes, os antigos Cefets, e cada qual recebeu uma
meta de expansão. Foi montado um sistema de monitoramento pela Internet que,
hoje em dia, monitora 30 mil obras.
O PNE só se tornou política pública permanente
porque construído de forma coletiva.
*Luis Nassif, introdutor
do jornalismo de serviços e do jornalismo eletrônico no país. Comentarista
econômico da TV Cultura. Vencedor do Prêmio de Melhor Jornalista de Economia da
Imprensa Escrita do site Comunique-se em 2003 e 2005, em eleição direta da
categoria. Membro do Conselho do Instituto de Estudos Avançados da USP e do
Conselho de Economia da FIESP. Autor de "O Jornalismo dos anos 90", e
"Menino de São Benedito", Finalista do Prêmio Jabuti de 2003 na Categoria
Contos/Crônica. Em 1995 lançou o CD "Roda de Choro", solando
bandolim, semi-finalista do Prêmio Sharp de Música Instrumental.
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