STF, em Brasília-DF. Foto: Portal IG/maio 2012. |
AE*
BRASÍLIA - O
surgimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no radar do julgamento do
mensalão alertou para um movimento subterrâneo detectado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF): manobras projetadas para embaraçar o processo e jogar a sentença
final para depois das eleições.
38 réus no processo do mensalão vão ser julgados pelo STF. AE/maio de 2012. |
Diante disso, o
presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, prepara em conjunto com os colegas
alguns antídotos para anular estratégias que podem ser usadas pelos advogados
dos réus do mensalão para retardar o julgamento do processo. Com 38 réus a
serem julgados e número ainda maior de advogados envolvidos com o caso, os
ministros sabem que todos os subterfúgios legais e chicanas poderão ser usados
nas sessões de julgamento.
Britto pediu à Defensoria Pública que preparasse de cinco a sete defensores para que fiquem de sobreaviso. Eles serão sacados para atuar no julgamento caso algum dos advogados peça adiamento da sessão por estar doente ou se algum dos réus convenientemente destituir seu advogado e pedir prazo para contratar um novo defensor.
Problemas como
esses poderiam provocar o adiamento da sessão por semanas. Esses defensores
públicos estudam o caso desde abril e estarão, de acordo com integrantes do
tribunal, prontos para defender os réus de imediato, sem permitir atrasos no
julgamento do processo, que deve se alongar por dois meses.
Os ministros
antecipam também estratégias para garantir a execução das penas daqueles que
forem condenados. Terminado o julgamento, o tribunal precisa publicar o acórdão
- com a íntegra do relatório do caso, os votos de cada ministro e os debates
travados na sessão, e a ementa do julgamento.
Nessa etapa do
processo, o Supremo costuma perder meses. Cada um dos ministros revê seus
votos, lê os apartes que fez aos colegas durante a sessão, retira partes que
considerar impróprias - caso haja, por exemplo, alguma discussão mais áspera em
plenário - e só então o documento é publicado.
Enquanto o
acórdão não é publicado, não é aberto o prazo para que os advogados recorram da
decisão ou peçam esclarecimentos sobre determinados pontos. Os ministros
imaginam que terão de enfrentar uma sequência de recursos - especialmente
embargos de declarações, usados para contestar eventuais omissões ou
contradições.
Todos precisam
ser julgados para que enfim o processo transite em julgado e os que foram
condenados comecem a cumprir as penas. De acordo com assessores, Britto deve
discutir com o relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, uma forma de tornar
mais ágil a publicação do acórdão. Uma possibilidade seria sugerir a Barbosa
que deixe pronto um modelo de ementa com base no seu voto. Caso haja mudanças,
o relator do processo iria, ao mesmo tempo, adaptando a ementa. Tudo para
evitar que essa etapa posterior possa jogar o cumprimento das penas para o fim
de 2013.
Rapidez.
Paralelamente às estratégias contra chicanas, parte dos ministros pensa em
procedimentos que acelerem a conclusão do julgamento. Antes mesmo de o processo
estar liberado para ir a plenário, o presidente do STF e o relator do caso
começaram a discutir com os colegas a formatação da sessão.
Joaquim Barbosa,
por exemplo, propôs fazer leitura resumida do relatório de 122 páginas, o que
foi aprovado pelos colegas.
Os ministros
acertaram também que uma sessão extraordinária será feita semanalmente para
acelerar os trabalhos. Mas os integrantes do Supremo precisam ainda discutir o
calendário exato de sessões.
*Publicado pela Agência Estado: 02 de junho de 2012 | 22h 24
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