Isabella Souto*
Prefeitura Municipal de Montes Claros (MG), situada à Av. Cula Mangabeira, 211 - Centro |
A parceria entre a Stillus Alimentação e
a Prefeitura de Montes Claros na fraude de R$ 19 milhões em licitações para o
fornecimento de merenda escolar incluiu a venda de quatro lotes em local nobre
por valor bem abaixo de mercado. Inspeção realizada pelo Tribunal de Contas do
Estado (TCE) apontou que a área de 4.909,95 metros quadrados, localizada no
Bairro São Luiz, tem valor venal de R$ 4,34 milhões, mas foi repassada em um
processo irregular à empresa por R$ 3,4 milhões – um prejuízo de 31,66% aos
cofres públicos.
A venda foi realizada em abril de 2011
com dispensa de licitação – conduta vedada pelo artigo 17 da Lei 8.666/93. Cada
metro quadrado foi repassado à Stillus Alimentação por R$ 672,78, quantia
contestada por laudo técnico, que apurou um valor venal de R$ 885,84 na ocasião
da alienação. Segundo os técnicos do TCE, houve negligência da Comissão de
Licitações, de secretários municipais e da assessoria jurídica da Prefeitura de
Montes Claros ao adotar valor inferior ao de mercado e ainda realizar a venda
com dispensa de licitação, conforme determina legislação.
“Os integrantes da Comissão de Licitação
e os secretários municipais concorreram para o favorecimento da empresa ao
admitir a realização dos processos sem avaliação feita por profissional
competente e sem laudo técnico de avaliação dos imóveis, contratando, por dispensa
de licitação, a preço inferior de mercado à época”, diz o relatório do TCE. A
avaliação do terreno foi feita por dois corretores de imóveis e um funcionário
da Seção de Tributos Imobiliários da Prefeitura, enquanto a legislação
determina laudo feito por engenheiro.
O preço também foi determinado um ano
antes da venda, sem qualquer atualização. Daí o prejuízo de quase R$ 1 milhão.
Chamou ainda a atenção dos técnicos do TCE o fato de que a Irmandade Nossa
Senhora das Mercês de Montes Claros apresentou proposta para a compra dos
quatros lotes por R$ 4 milhões, mas foi inabilitada pela Comissão de Licitação.
Para garantir a venda, a prefeitura contou com ajuda da Câmara.
Isso porque o terreno – que foi
desmembrado em quatro lotes – havia sido doado à Câmara para a construção de
nova sede do Legislativo. Projeto de lei de autoria do vereador Athos Mameluque
(PMDB) cancelou a doação e colocou a área à venda. Ainda participou da fraude o
ex-secretário de Serviços Urbanos João Batista Ferro, irmão de João Antônio
Ferro, proprietário da MC Imóveis, empresa responsável pela venda.
Para o Ministério Público – que deflagrou
na terça-feira a Operação Laranja com Pequi –, a Stillus foi beneficiada para
compensar uma queda no valor do contrato de fornecimento de merenda escolar
para a prefeitura. Ao assinar em 2009 contrato com a Stillus, o custo da
alimentação para as crianças saltou de R$ R$ 8 milhões para R$ 12 milhões. Por
pressão do MPE, que auditou os contratos, a despesa caiu pela metade.
*Jornal EM/BH. Publicação: 28/06/2012
06:00 Atualização: 28/06/2012 07:07
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sinta-se à vontade para postar seu comentário.
Espaço aberto à participação [opinião] e sujeito à moderação em eventuais comentários despretensiosos de um espírito de civilidade e de democracia.
Obrigado pela sua participação.
FN Café NEWS