Fausto Macedo e
Ricardo Brito – AE*
José Dirceu: acusado de pivô do Mensalão. AE/J. Patrício. |
Márcio Thomaz
Bastos, que defende José Roberto Salgado, ex-vice presidente do Banco Rural,
declarou que espera que o tem esperança que se "faça Justiça" no
julgamento. Já o criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, que defende
Ayana Tenório, ex-vice presidente do Rural, afirmou considerar importante o
fato de o julgamento não ter sido marcado de forma abrupta. "Temos prazo
de dois meses para nos preparamos e isso atende a uma reivindicação dos
advogados."
Embora elogie o
tempo para preparação, ele critica a dinâmica definida pelo tribunal. "Eu
acho contraproducente a realização de cinco defesas por dia. Cinco advogados
irão falar durante 5 dias por semana. Vejo isso como uma restrição ao direito
de defesa na medida em que o último advogado a falar pegará o tribunal cansado.
Isso poderá prejudicar a defesa de seu cliente", pontuou. Oliveira afirmou
ainda que "se o julgamento preencher 5 dias por semana, em duas semanas o
STF vai parar".
O advogado
Marcelo Leonardo, que defende o empresário Marcos Valério, é categórico.
"A nós cabe aguardar o momento do julgamento. Se foi marcado para essa
data vamos participar, para mim não faz diferença nenhuma." Para ele, o
tom em que será levado o julgamento definirá a sentença. "Se o julgamento
for realizado com base na prova constante do processo, produzida em juízo, não
haverá condenação. Se o julgamento for político há sério risco de
condenação."
O criminalista
Alberto Zacharias Toron, que defende o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), disse
que recebe "com um pouco de cautela essa decisão", porque dela não
tomou parte o ministro Ricardo Lewandowski (revisor), que ainda não devolveu os
autos do processo. "Também não ficou claro para mim quantas sessões vão
fazer por semana. De qualquer modo, vamos aguardar a evolução dos fatos.
Estamos preparados para o julgamento. Disseram que os advogados estavam
procrastinando, mas em momento algum isso ocorreu. Acredito na absolvição do
deputado João Paulo Cunha, as acusações são atípicas. Independentemente do
problema da existência de prova, há acusações manifestamente descabidas."
O advogado Paulo
Sérgio Abreu e Silva, que defende Rogério Tolentino - ex-advogado das empresas
de publicidade de Marcos Valério - criticou a ordem para que a defesa e a
acusação façam sustentações orais durante o julgamento. Para ele, o formato vai
beneficiar a acusação, a cargo do procurador-geral da República, Roberto
Gurgel. "Ninguém vai se lembrar das sustentações dos advogados",
reprova Abreu e Silva. Para ele, o ideal seria que se fizesse a sustentação do
procurador-geral, depois do acusado e, em seguida, o julgamento de cada um.
ENTENDA O MENSALÃO
No dia 6 de junho de 2005, o deputado federal
Roberto Jefferson (PTB-RJ) contou, em entrevista exclusiva à jornalista Renata
Lo Prete, então editora do Painel da Folha de S.Paulo, que congressistas
aliados do governo Lula recebiam o que chamou de "mensalão" (mesada)
de R$ 30 mil do tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Segundo a reportagem, a prática durou até o começo
daquele ano, quando o presidente Lula, segundo Jefferson, tomou conhecimento do
caso, pelo próprio petebista. Outros ministros, como José Dirceu e Antonio
Palocci (Fazenda), teriam sido alertados sobre o esquema --que beneficiaria
pelo menos o PP e o PL.
Jefferson
contou que o presidente Lula havia chorado ao saber da prática do
"mensalão". "Tenho notícia de que a fonte secou. A insatisfação
está brutal [na base aliada] porque a mesada acabou", disse, à época,
Roberto Jefferson à Lo Prete.
Durante depoimento à Comissão de Ética da
Câmara, no dia 14 de junho do mesmo ano, Jefferson reiteirou que não tinha
provas de suas denúncias, mas citou supostos integrantes do
"mensalão": Valdemar Costa Neto (presidente do PL), José Janene
(PP-PR), Pedro Corrêa (PP-PE), Sandro Mabel (PL-GO), Bispo Rodrigues (PL-RJ) e Pedro
Henry (PP-MT). Todos os parlamentares negaram as acusações e disseram que
Jefferson tentou desviar a atenção da CPI dos Correios para evitar sua
cassação.
Em junho, as denúncias de Roberto
Jefferson surtiram seus primeiros efeitos na composição do ministério de Lula.
José Dirceu, que era considerado um dos homens mais fortes do governo petista,
anunciou seu desligamento do cargo de ministro da Casa Civil.
Lula x Mendes
O ex-presidente Lula procurou o ministro
do Supremo Gilmar Mendes para tentar adiar o julgamento do mensalão. Em troca
da ajuda, Lula ofereceu ao ministro, segundo reportagem da revista
"Veja" publicada no fim de maio, blindagem na CPI que investiga as
relações do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos
e empresários.
O encontro aconteceu em 26 de abril no
escritório de Nelson Jobim, ex-ministro do governo Lula e ex-integrante do
Supremo.
Lula disse ao ministro, segundo a
revista, que seria "inconveniente" julgar o processo agora e chegou a
fazer referências a uma viagem a Berlim em que Mendes se encontrou com o
senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), hoje investigado por suas ligações com
Cachoeira.
O caso gerou indisposição na Suprema
Corte, mas Ayres Britto fez questão de comentar que a questão não levaria
"a uma crise institucional".
*Agência Estado/Publicado 06 de junho de 2012 |
22h 30
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