STF define início do julgamento do mensalão, que começa em 1º de agosto
Sala de sessões plenárias do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília-DF. André Dusek/AE 2012. |
*Camila
Campanerut
Os ministros do STF (Supremo Tribunal
Federal) definiram, no final da tarde desta quarta-feira (6), um cronograma de
trabalho para o julgamento do caso do mensalão. Os magistrados definiram que o
primeiro dia do julgamento será em 1º de agosto --data que o Judiciário retorna
do recesso do meio de ano-- para iniciar as sustentações orais da
Procuradoria-Geral da República e dos 38 réus do caso. As definições foram
feitas durante uma reunião administrativa da Suprema Corte.
O planejamento aprovado depende da
entrega da revisão do voto pelo ministro Ricardo Lewandowski até o fim de
junho. Apesar de não ter participado da reunião, Lewandowski informou, por meio
de sua assessoria de imprensa, que entregará o seu voto até o fim deste mês e,
portanto, fica definido o cronograma de julgamento.
O julgamento deve ser dividido em duas
partes: a primeira, do dia 1º até o dia 14 de agosto, com sessões diárias de
segunda a sexta-feira, e duração de cinco horas por dia, iniciando com a fala
do procurador-geral da República, que durará cerca de cinco horas.
Na segunda fase, que deve ser iniciada no
dia 15 de agosto, o relator do caso, o ministro Joaquim Barbosa, apresentará
seu voto, e o segundo parecer a ser apresentado será o do ministro Ricardo
Lewandowski, que é o revisor do processo.
A expectativa é que nesta segunda fase as
sessões ocorram três vezes por semana, às segundas, quartas e quintas no
período da tarde, sem prazo determinado de duração.
"Para que a atenção fosse viva e acesa, e para
favorecer os que vão falar por último", o presidente do STF, Carlos Ayres
Britto, justificou a delimitação de tempo para a primeira fase do julgamento.
Incertezas
As participações dos ministros Dias Toffoli e Cezar
Peluso ainda não estão confirmadas. Peluso completa 70 anos em 3 de setembro e
compulsoriamente deverá se aposentar da Suprema Corte. O voto dele poderia ser
adiantado, desde que depois dos votos de Barbosa e Lewandoski, mas depende da
vontade do magistrado, que ainda não expôs oficialmente sua definição.
Já Toffoli foi advogado do PT e se relaciona com a
advogada Roberta Rangel que defendeu, em 2007, um dos réus do caso, o
ex-deputado Professor Luizinho no plenário do Supremo. Os dois fatos poderiam
motivá-lo a se declarar “impedido” de votar. O ministro ainda não oficializou
sua decisão sobre o assunto.
Mudanças
Com o extenso prazo dedicado ao julgamento do
mensalão, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e o TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) fizeram alterações em seus horários de funcionamento.
Enquanto durar o julgamento, o CNJ passará as ter
sessões na terça pela manhã. Normalmente, as reuniões acontecem no período da
tarde. Já o TSE passará a se reunir às terças e quintas-feiras a partir das
20h, em vez do horário das 19h, uma vez que três dos sete ministros do corte
eleitoral integram o STF.
Entenda o
mensalão
No dia 6 de junho de 2005, o deputado federal
Roberto Jefferson (PTB-RJ) contou, em entrevista exclusiva à jornalista Renata
Lo Prete, então editora do Painel da Folha de S.Paulo, que congressistas
aliados do governo Lula recebiam o que chamou de "mensalão" (mesada)
de R$ 30 mil do tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Segundo a reportagem, a prática durou até o começo
daquele ano, quando o presidente Lula, segundo Jefferson, tomou conhecimento do
caso, pelo próprio petebista. Outros ministros, como José Dirceu e Antonio
Palocci (Fazenda), teriam sido alertados sobre o esquema --que beneficiaria
pelo menos o PP e o PL.
Jefferson
contou que o presidente Lula havia chorado ao saber da prática do
"mensalão". "Tenho notícia de que a fonte secou. A insatisfação
está brutal [na base aliada] porque a mesada acabou", disse, à época,
Roberto Jefferson à Lo Prete.
Durante depoimento à Comissão de Ética da
Câmara, no dia 14 de junho do mesmo ano, Jefferson reiteirou que não tinha
provas de suas denúncias, mas citou supostos integrantes do
"mensalão": Valdemar Costa Neto (presidente do PL), José Janene
(PP-PR), Pedro Corrêa (PP-PE), Sandro Mabel (PL-GO), Bispo Rodrigues (PL-RJ) e Pedro
Henry (PP-MT). Todos os parlamentares negaram as acusações e disseram que
Jefferson tentou desviar a atenção da CPI dos Correios para evitar sua
cassação.
Em junho, as denúncias de Roberto
Jefferson surtiram seus primeiros efeitos na composição do ministério de Lula.
José Dirceu, que era considerado um dos homens mais fortes do governo petista,
anunciou seu desligamento do cargo de ministro da Casa Civil.
Lula x Mendes
O ex-presidente Lula procurou o ministro
do Supremo Gilmar Mendes para tentar adiar o julgamento do mensalão. Em troca
da ajuda, Lula ofereceu ao ministro, segundo reportagem da revista
"Veja" publicada no fim de maio, blindagem na CPI que investiga as
relações do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos
e empresários.
O encontro aconteceu em 26 de abril no
escritório de Nelson Jobim, ex-ministro do governo Lula e ex-integrante do
Supremo.
Lula disse ao ministro, segundo a
revista, que seria "inconveniente" julgar o processo agora e chegou a
fazer referências a uma viagem a Berlim em que Mendes se encontrou com o
senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), hoje investigado por suas ligações com
Cachoeira.
O caso gerou indisposição na Suprema
Corte, mas Ayres Britto fez questão de comentar que a questão não levaria
"a uma crise institucional".
*Do UOL, em
Brasília - Publicado em 06/06/2012 ;18h34; Atualizada 21h11
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