Alessandra Mello e Luiz Ribeiro*
Ex-presidente do Cruzeiro, o empresário Alvimar Oliveira que é irmão do senador Zezé Perrella. |
O maior contrato da Stillus Alimentação, registrada
em nome de Alvimar Oliveira e José Maria Queiroz Fialho, vice-presidente do time de futebol
Cruzeiro Esporte Clube (BH), era com a prefeitura de Montes Claros, no Norte de Minas. O grupo de
Alvimar entrou na prefeitura em 2009, quando a empresa ISO Engenharia Ltda.,
registrada em nome de parentes de Bruno Vidotti, ex-pregoeiro da Secretaria de
Defesa Social, foi contratada para fazer um diagnóstico da merenda nas 108
escolas do município. Totalmente fraudado, o estudo embasou, segundo o
Ministério Público estadual, a justificativa da Prefeitura de Montes Claros
para terceirizar o fornecimento de merenda.
Até então de boa qualidade e com custos razoáveis,
a alimentação das crianças nas escolas municipais passou a custar 500% a mais.
Os cerca de R$ 8 milhões gastos pela prefeitura em 2008 para custear a merenda
saltaram para R$ 12 milhões, já em 2009, cobrados pela Stillus Alimentação. Por
pressão do MPE, que auditou os contratos, o custo acabou caindo pela metade.
Para compensar a perda de receita, a Stillus ganhou de “presente” um terreno
público em uma área nobre de Montes Claros, vendido para a empresa pela
prefeitura, com autorização da Câmara Municipal, a preço abaixo do valor de
mercado.
Nessa terça-feira, quatro suspeitos de participar
das fraudes no fornecimento de merenda, pessoas que trabalham ou já trabalharam
para a Prefeitura de Montes Claros, tiveram a prisão decretada, entre eles a
secretária de Educação, Mariléia de Souza; o ex-secretário de Serviços Urbanos
João Batista Ferro;o assessor jurídico da prefeitura, Fabricius Veloso,
sobrinho de um juiz da cidade, e o assessor especial do prefeito Tadeu
Leite (PMDB), Noélio Oliveira. De acordo com o MPE, há indícios de participação
do prefeito nas fraudes, mas ainda não há inquérito instaurado contra ele.
Gravações de escuta telefônica revelam o esquema da fraude
De acordo com as investigações do MPE, participaram
das fraudes para a venda do terreno o vereador e ex-presidente da Câmara Municipal Athos Mameluque (PMDB), autor do
projeto, e João Ferro, que intermediou a venda, feita pela empresa MC Imovéis,
registrada em nome de seu irmão, José Antônio Ferro. O terreno tinha sido doado
pela prefeitura para a Câmara para a construção da nova sede do Legislativo na
cidade. Em troca do agrado, o vereador Athos Mameluque ganhou 5 mil litros de
combustível para gastar na campanha deste ano. Em uma das gravações realizadas,
o vereador, em conversa com um interlocutor identificado como Hélio, pede que
ele avise à turma que foi o autor da emenda. “Cê fala para a turma aí, que tá
em casa, que quem botou a emenda lá, tirando a caução, foi o Athos Mameluque,
viu?”
De acordo com as investigações, Noélio e João Ferro
foram os mentores do esquema de favorecimento da Stillus para que ela ganhasse
a concorrência milionária. Em uma das gravações, João Ferro cobra R$ 200 mil de
um diretor de uma empresa, dizendo que o dinheiro é para “Wilson”. Os
responsáveis pela investigações supõem que a referência teria sido ao
empresário do setor hoteleiro de Montes Claros e ex-candidato a deputado
federal Wilson Cunha (PSD), “padrinho” de João Ferro na atual administração, em
que exerce grande influência. O caso ainda deverá ser investigado.
“Em 80 escolas visitadas foi verificado que boa
parte dos itens constantes no cardápio não eram fornecidos, prejudicando
diretamente as crianças, pois a boa merenda é importante para o rendimento do
aluno”, explicou o delegado da PF Tiago Amorim, um dos responsáveis pela
investigações.
Outro lado
A empresa Stillus Alimentação informou ontem por
meio de nota que os documentos solicitados na ordem de busca e apreensão sempre
estiveram à disposição do fisco e das autoridades do estado, mas que nunca
foram solicitados. A empresa afirmou ainda que seus diretores haviam
comparecido dias antes ao Ministério Público, onde, de acordo com a nota, foram
prestadas todas as declarações necessárias sobre os fatos em apuração:
licitações públicas relativas à merenda escolar e fornecimento de alimentação a
presídios de Minas Gerais.
ENTENDA A FRAUDE DA MERENDA EM MONTES CLAROS
Em 2010, a PF em Montes Claros começou a
apurar denúncia de desvio de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) para
a compra de merendas da Secretaria Municipal de Educação e constatou que o esquema também já era investigado pelo
MPE. As investigações revelaram que a prefeitura de Montes Claros gastava R$ 2 milhões anuais
com a alimentação dos alunos, mas contratou a empresa de Vidotti para avaliar o
serviço. Em apenas um dia, a empresa afirmou que analisou cerca de 150 escolas
e que a merenda era "inadequada".
Nova licitação foi realizada e ganha pela
Stillus, o que fez o custo saltar para R$ 12 milhões anuais. A prefeitura
também passou a pagar por aluno matriculado, ao invés dos estudantes
efetivamente alimentados. Segundo a PF, a apuração revelou "veementes
indícios de que a organização criminosa, de longa data, atua efetivamente para
fraudar licitações" com a participação de servidores.
*Jornal Estado de Minas - Publicação: 27/06/2012
06:00 Atualização: 27/06/2012 08:19. Adaptações FN Café News.
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