Procurador-geral pede que Supremo condene Azeredo a 22 anos
de prisão
Rodrigo Janot afirma que
deputado e ex-presidente do PSDB atuou de forma ‘efetiva, intensa e decisiva’
no esquema que ficou conhecido como 'mensalão mineiro', de desvio de recursos
públicos
Mariângela Gallucci e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
Procurador-Geral apontou desvio de ao menos R$ 3,5 mi para a campanha de Azeredo. Foto: AE. |
BRASÍLIA - O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, pediu em parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal
que o deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) seja condenado a uma pena de
22 anos de prisão por participação no chamado mensalão
mineiro.
Nas alegações finais entregues nesta
semana ao Supremo, o chefe do Ministério Público Federal afirma que Azeredo,
ex-presidente nacional do PSDB, cometeu os crimes de peculato e lavagem de
dinheiro e pede também que seja imposta uma multa de R$ 451 mil ao parlamentar.
Neste ano, o plenário do STF deverá
julgar a ação penal na qual o tucano, então governador de Minas, é acusado de
ter se associado a um grupo do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza
para desvio de verbas e arrecadação ilegal de dinheiro em favor de sua campanha
à reeleição em 1998.
Marcos Valério está preso desde novembro
do ano passado pela condenação no mensalão federal, no governo do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
A Procuradoria-Geral da República apontou
desvio de pelo menos R$ 3,5 milhões para a campanha, por meio da "retirada
criminosa" de recursos públicos das empresas estaduais Copasa (R$ 1,5
milhão), Comig (R$ 1,5 milhão) e do antigo Banco Estadual do Estado, o Bemge (R$
500 mil).
O dinheiro, que teoricamente deveria
servir para patrocinar eventos esportivos, era liberado em favor da agência
SMPB, de Marcos Valério. Posteriormente os recursos eram destinados à campanha
eleitoral.
"O patrocínio dos eventos esportivos
foi apenas uma cortina de fumaça, utilizada para mascarar o destino dos
recursos públicos: a campanha de Eduardo Azeredo à reeleição", argumentou
Janot no documento.
"Ao desviar recursos públicos,
Eduardo Azeredo pretendeu, ao fim e ao cabo, praticar mais um episódio de
subversão do sistema político-eleitoral, ferindo gravemente a paridade de armas
no financiamento das despesas entre os candidatos, usando a máquina
administrativa em seu favor de forma criminosa e causando um desequilíbrio
econômico-financeiro entre os demais concorrentes ao cargo de governador de
Minas Gerais em 1998", concluiu.
Dirceu. Na manifestação, o procurador-geral
compara a situação do tucano à do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, condenado
no processo do mensalão. O chefe do Ministério Público Federal disse que
Azeredo não apenas comandou a atuação de "diversas pessoas", mas
também cuidou de se preservar "nunca se pondo ostensivamente à frente do
esquema e permanecendo sempre em segundo plano, em clara tentativa de ocultar
sua participação nos delitos".
Nas alegações finais, Janot concorda com
as conclusões de seu antecessor na Procuradoria, Antonio Fernando Barros e
Silva, para quem o mensalão mineiro foi uma espécie de "laboratório"
para o mensalão federal. Na denúncia encaminhada ao Supremo em 2007, o então
procurador sustentou que Azeredo foi o principal beneficiário do esquema.
O deputado nega que tenha participado de
qualquer irregularidade. Sua defesa sustenta que ele estaria isento de
responsabilidade na condução da campanha, que seria gerenciada por terceiros.
Mas para o Ministério Público há provas cabais do envolvimento do tucano nos
crimes.
Relacionamento. Conforme Janot, havia um relacionamento
próximo entre Azeredo e Marcos Valério. Ele destacou o registro de 57 ligações
entre os dois no período de julho de 2000 a maio de 2004.
"Há elementos probatórios
absolutamente suficientes para afirmar com a segurança devida que Eduardo
Brandão de Azeredo participou decisivamente da operação que culminou no desvio
de R$ 3,5 milhões, aproximadamente, R$ 9,3 milhões em valores atuais",
sustentou o procurador no documento.
Segundo ele, há nos autos "conjunto
probatório robusto que confirma a tese acusatória" que "a lavagem
desses capitais teve a participação direta, efetiva, intensa e decisiva de
Eduardo Brandão de Azeredo".
A ação penal contra Azeredo foi recebida
pelo Supremo em dezembro de 2009. O senador Clésio Andrade (PMDB-MG) é réu em
outra ação penal na Corte. Outros acusados, entre eles Marcos Valério –
condenado e preso no mensalão –, respondem à ação na 9.ª Vara Criminal de Belo
Horizonte.
Em nota divulgada nesta sexta-feira,
Azeredo reafirma sua inocência e manifesta estranheza com o que considera
contradição entre o relatório da Procuradoria e as provas apresentadas ao
processo.
Marcelo de Moraes – O poder sem segredos
Eleições, Mensalão, Política
Tucanos não esperavam pedido de
pena tão alta para Azeredo
Depois da repercussão da condenação e prisão de importantes políticos
petistas pelo escândalo do mensalão, dirigentes tucanos já previam que o
procurador geral República, Rodrigo Janot, pediria punição ao Supremo Tribunal
Federal (STF) para o deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) pela
participação no chamado mensalão mineiro. Embora confiem na inocência do
ex-governador de Minas Gerais, os líderes tucanos sabiam que esse risco era
real.
O que surpreendeu a cúpula do PSDB foi o pedido de pena de 22 anos para
Azeredo. Primeiro porque não é praxe que o procurador sugira uma dosimetria (o
tempo de pena) no pedido enviado ao Supremo. Segundo, que consideraram a pena
de 22 anos elevada demais. Janot está pedindo prisão para Azeredo pelos crimes
de peculato e lavagem de dinheiro.
Na guerra eleitoral entre tucanos e petistas não param de surgir novas
munições. Os petistas agora podem usar o caso de Azeredo. Os tucanos, que já
falavam dos condenados pelo Supremo, agora têm a captura do fugitivo Henrique
Pizzolatto e a renúncia do agora ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP). Assim, o
Fla-Flu do mensalão não acaba nunca e parece que o ano de 2005, quando o
escândalo estourou, também não termina.
Carlos Renato Nascimento Machado - BH, via facebook: "Até quem fim..."
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