Puxadores de votos rendem R$ 94 milhões em recursos públicos para
os partidos
Fundo
Partidário cresce e ganha importância como fonte de receita para as siglas em 4
anos; no período, cada voto para deputado rende R$ 12
Daniel Bramatti e Isadora
Peron - O Estado de S.Paulo/Colaboraram Diego Rabatone e Valmar H. Filho
Os chamados "puxadores de voto"
nunca valeram tanto para seus partidos. Ao final dos quatro anos entre 2011 e
2014, os 20 deputados federais mais votados na última eleição terão rendido R$
94 milhões em cotas do Fundo Partidário, alimentado com recursos do governo
federal.
Celebridades, ex-governadores ou parentes
de detentores do poder, os "puxadores de voto" sempre foram
cortejados pelos partidos porque os ajudavam a ampliar suas bancadas - pelas
regras do sistema eleitoral brasileiro, um candidato pode eleger a si próprio e
também a outros colegas de legenda ou de coligação. O assédio aos campeões de
votos tem, no entanto, uma segunda motivação: dinheiro.
Quanto mais votos uma legenda obtém na
disputa pela Câmara, mais recebe do Fundo Partidário - fonte de recursos
públicos que terá R$ 313 milhões em caixa em 2014 e que cresceu 135% acima da
inflação desde 1996.
O PR, por exemplo, emplacou em 2010 os
deputados mais votados em São Paulo (Tiririca) e no Rio (Anthony Garotinho).
Apenas com os 2 milhões de votos desses dois, o partido conseguiu engordar sua
conta bancária em quase R$ 25 milhões entre 2011 e 2014.
Na prática, ao votar em um candidato a
deputado, o eleitor faz uma doação indireta - e quase sempre ignorada - a seu
partido. Nos últimos quatro anos, somados, essa contribuição compulsória foi de
R$ 12 por eleitor - no período, o Fundo Partidário distribuiu R$ 1,2 bilhão.
Nem sempre o fundo teve tantos recursos.
Entre 1996 e 2010, seu valor médio (corrigido pela inflação) ficou em torno de
R$ 160 milhões. Desde 2011, saltou para R$ 303 milhões. Isso aconteceu porque,
naquele ano, o Congresso decidiu ampliar em R$ 100 milhões a dotação
orçamentária do fundo. Na prática, como o Estado noticiou na época, houve uma
"estatização" de dívidas da campanha de 2010, que acabaram pagas com
recursos públicos.
Mesmo bancando parte das campanhas, a
siglas costumam ter "lucro" com os principais candidatos. Tiririca,
por exemplo, recebeu R$ 664 mil do PR na campanha eleitoral de 2010, e seus
votos renderam R$ 16,3 milhões em quatro anos - 2.358% a mais.
Nomes. Em 2014, Tiririca repete o papel de
"puxador de voto" do PR paulista. No Rio, a aposta é na filha de
Garotinho, Clarissa. Em São Paulo, o PSDB pode ter como destaque na lista de
candidatos à Câmara o ex-governador e ex-presidenciável José Serra. O partido
aposta ainda em nomes do secretariado do governador Geraldo Alckmin, como Bruno
Covas e José Aníbal. Em outros Estados, a expectativa é eleger estrelas do
voleibol - o técnico Bernardinho, no Rio (que chegou a ser sondado para
disputar o governo fluminense), e os ex-jogadores da seleção Giba e Giovani, no
Paraná e em Minas, respectivamente.
Florisvaldo Souza, secretário de
Organização do PT, disse que a sigla não costuma investir em nomes de
celebridades, e sim nos quadros já firmados. Segundo ele, deputados que
disputam a reeleição costumam ser os maiores puxadores de voto.
O
PSB espera que o ex-jogador Romário faça sucesso nas urnas do Rio. O partido
também acredita que João Campos, filho do governador de Pernambuco, Eduardo
Campos, vai ter uma votação expressiva no Estado.
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