Em Brasília, Asa Norte tem noite antiDilma
Dois andares separavam petistas de peemedebistas, ambos em
reunião para compartilhar queixas contra o Palácio do Planalto
Eduardo
Bresciani e Daiene Cardoso - O Estado de S.Paulo/ Colaboração Vera Rosa e
Ricardo Della Coletta
BRASÍLIA
- A insatisfação da base aliada na Câmara com o governo Dilma Rousseff
movimentou na noite de quarta-feira(19) o bloco H da quadra 302 da Asa Norte,
bairro nobre de Brasília. Enquanto no 3.º andar lideranças de nove partidos
discutiam a formação de um "centrão" para isolar o PT, no 1.º andar
petistas reclamavam do governo. Com um encontro casual no elevador,
participantes das reuniões se misturaram e as queixas foram dirigidas a um
único endereço: o Palácio do Planalto.
A articulação de partidos da base contra
o PT foi liderada pelo presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), e
representantes dos governistas PMDB, PP, PSD, PR, PDT, PTB, PSC e PROS, além do
oposicionista SDD. A intenção é montar um bloco nos moldes do "centrão"
que se formou em 1987, na Constituinte - e que, no caso, defendia posições de
centro-direita -, para conduzir as votações independentemente da vontade do
governo. "É como se fosse a base, sem PT e PC do B, se unindo para
valorizar a Câmara", disse o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ).
"Queremos que o governo deixe a Câmara trabalhar", disse o líder do
PSD, Moreira Mendes (RO).
Os parlamentares reclamam da falta de
interlocução política, da presidente aos ministros. Afirmam que sofrem para
conseguir marcar audiências até com secretários dos ministérios. Dizem ainda
que deputados petistas teriam "informação privilegiada" para
conseguir capitalizar ações do governo nas suas bases. "Se não criarmos um
caminho no Congresso vamos ser massacrados pelo PT nas eleições", disse um
dos participantes. Um novo encontro está previsto para terça.
A reunião do "centrão", no
apartamento de Luiz Fernando Faria (PP-MG), no 3.º andar, começou por volta das
21h30. No mesmo horário começaram a chegar petistas na casa do vice-presidente
da Câmara, André Vargas (PT-PR), no 1.º andar.
O objetivo era discutir os nomes para as
três comissões que o PT comandará na Casa. Mas antes disso começou a discussão
sobre emendas parlamentares. "Fomos atropelados e começamos a discutir as emendas
represadas", contou Vargas. Deputados de todas as legendas - PT inclusive
- reclamam que o governo deixou de empenhar R$ 447 milhões no fim de 2013 que
tinham sido prometidos.
Por volta da meia-noite, Alves, Cunha e
outros participantes da reunião do 3.º andar entraram no elevador para deixar o
prédio. Segundos depois, o elevador parou no 1.º andar. Petistas o aguardavam e
os participantes dos dois encontros se cruzaram. "Quando encontramos o
pessoal do PT vimos que o clima estava até mais pesado que lá em cima",
disse um dos líderes.
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