Contra crise de confiança, campanha de Dilma planeja criar fórum empresarial
Governo estuda possibilidade de
editar documento para estabelecer compromissos para alavancar indústria
nacional
Vera Rosa
e Adriana Fernandes - O Estado de S.Paulo
Falta de credibilidade do cenário econômico preocupa Dilma e Aécio. |
BRASÍLIA
- Pressionada por representantes da indústria e diante de um cenário econômico
adverso, a presidente Dilma Rousseff quer criar um fórum permanente de diálogo
com empresários para a campanha da reeleição. A ideia de Dilma é reunir
sugestões dos mais diversos segmentos empresariais para tentar neutralizar as
críticas amplificadas pela oposição.
O comando
da campanha estuda até a possibilidade de editar um documento específico, no
segundo semestre, estabelecendo compromissos da presidente para alavancar a
indústria. Nos bastidores do PT, o plano é chamado de versão 2.0 da Carta ao
Povo Brasileiro, texto usado na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva ao
Planalto, em 2002, para acalmar o mercado.
Na semana
em que Dilma foi obrigada a preencher a vaga de ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior com um interino, Mauro Borges Lemos, por não
encontrar um empresário de renome que quisesse assumir o posto, coube a Lula
fazer afagos a investidores internacionais, em Nova York. "Ninguém deve
ter medo de investir no Brasil", disse ele.
O papel
de atrair pesos pesados do PIB para a campanha de Dilma e do candidato do PT ao
governo paulista, Alexandre Padilha, será protagonizado pelo ex-presidente.
Após assistir a uma romaria de industriais a seu escritório, nos últimos meses,
para reclamar do "intervencionismo" do governo na economia, Lula
vestirá o figurino de "facilitador" da reaproximação.
A
preocupação do governo e do PT é com a deterioração da imagem de Dilma em meio
a uma crise de credibilidade. Nos últimos dias, os desafiantes da presidente -
o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos
e ex-senadora Marina Silva (PSB) - fizeram coro com as queixas dos industriais e atacaram o modelo
econômico.
Vacinas. A estratégia do comitê petista
consiste agora em pôr na vitrine as conquistas do período Lula-Dilma, como o
crescimento do emprego, e criar "vacinas" para impedir que os
adversários colem na presidente o carimbo do descontrole e da falta de
gerenciamento, na esteira dos protestos de rua e dos apuros na economia.
Os
atritos na relação de Dilma com os empresários foram responsáveis, na sexta-feira,
pelo recuo do usineiro Maurílio Biagi Filho no compromisso verbal assumido com
o PT. Recém-filiado ao PR, Biagi anunciou a desistência de ser vice na chapa de
Padilha. "É difícil ganhar a eleição em São Paulo com o agronegócio ruim
como está", afirmou Biagi. "O problema é causado pela política do
governo federal e não adianta mais promessa. O governo tem de propor solução
para o setor."
Biagi
promoveu um jantar com representantes do agronegócio em sua casa, em Ribeirão
Preto, no dia 7. Ali seria dada a largada festiva da campanha de Padilha,
ex-ministro da Saúde.
Diante de
Lula e do candidato, porém, o clima foi de constrangimento com as críticas.
Para o
presidente da indústria de alimentos Moinho Pacífico, Lawrence Pih, as
garantias de Dilma não têm surtido efeito porque o setor privado quer ver
"ações concretas", com o objetivo de pôr fim à
"desindustrialização". "Não adiantam só palavras. O governo
precisa sinalizar que vai intervir menos na economia. O atual modelo é ancorado
no superávit primário, meta de inflação e câmbio flutuante, três pilares hoje
frágeis."
Pih
liderou o comitê de empresários que apoiou Lula na vitoriosa campanha de 2002,
mas se afastou do PT após o escândalo do mensalão, em 2005. Até hoje, no
entanto, ele defende o ex-presidente. "Lula é pragmático e tem capacidade
de negociar. Ele pode não concordar, mas ouve. A presidente é uma economista
keynesiana-socialista", comparou Pih.
Na
avaliação do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson
Andrade, os empresários não podem reclamar de falta de interlocução. "É
claro que gostaríamos que as coisas fossem mais rápidas, mas há muitas
reformas, como a trabalhista e a tributária, que dependem de mudanças na lei. E
o Congresso não é fácil."
Andrade
também vê entraves nas exigências do Tribunal de Contas e do Ministério Público
para a liberação de obras. "Temos de ser parceiros do governo para
discutir a questão do câmbio, dos juros e do crédito", argumentou.
"Não adianta ficar chorando."
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sinta-se à vontade para postar seu comentário.
Espaço aberto à participação [opinião] e sujeito à moderação em eventuais comentários despretensiosos de um espírito de civilidade e de democracia.
Obrigado pela sua participação.
FN Café NEWS