Correção do FGTS pela inflação gera caça a trabalhadores por parte de advogados e associações
Vitor Sorano - iG São Paulo
Defensoria Pública da União pediu a correção para todas as contas; em 1999, havia 65 milhões |
A
correção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) pela inflação tem
provocado uma corrida dos trabalhadores à Justiça – e uma caça desses mesmos
trabalhadores por parte de advogados e associações.
“Recebi
três cartas. Uma em outubro, outra em dezembro e outra em janeiro”, diz Abel
Euzebio da Fonseca, aposentado de 52 anos, de São Paulo, com os papéis que lhe
convidavam a 'analisar se você possui direito ao reajuste'. “Não conheço, nunca
fui no escritório deles, nada.”
As cartas
– muito semelhantes – foram enviadas por três associações diferentes com sede
em São Paulo. O objetivo é convencer o interessado a pedir a correção no FGTS
na Justiça Federal com o apoio dos advogados que prestam serviços para
elas.
A
Associação Nacional de Seguridade e Previdência (ANPS), a Associação Paulista
dos Beneficiários de Seguridade e Previdência (APABSP) e o Centro Paulista de
Apoio aos Aposentados e Servidores Públicos (CPAASP) não responderam aos
contatos da reportagem.
O
advogado Vinícius Fiscarelli, cujo escritório é indicado como o destino dos
casos das associações, afirma ser apenas um prestador de serviços e não ter
responsabilidade pela conduta das entidades.
“Isso com
certeza não saiu de alguém de dentro do nosso escritório”, diz o profissional.
"Até porque se fossemos pensar dessa maneira nenhum escritório poderia
advogar para algum grupo grande", completa, sobre o atuar para as associações.
Promessa
de vitória, e rápida
O texto,
nas três cartas, é o mesmo: a correção do FGTS poderia garantir ao trabalhador
uma bolada que pode “até ultrapassar o valor de R$ 40 mil” por causa de uma
“atualização errada” aplicada pelos bancos entre 1999 e 2013.
“Não
perca o prazo da campanha, pois não podemos prorrogar a data”, terminam as
missivas.
A
reportagem do iG visitou a ANSP – sem se identificar – na semana
passada, após o prazo do fim da suposta campanha. Lá, ouviu que se pedisse a
correção do FGTS por meio dos advogados da associação – ao custo de R$ 880 mais
20% sobre o que ganhar –, certamente conseguiria a revisão do FGTS, e de forma
ágil.
“Em
segunda instância a gente não perde”, diz uma atendente. O processo, diz,
levaria no máximo dois anos. “Antes disso sai. A gente dá esse prazo porque sai
bem antes. A gente teve processo aqui que saiu em dez dias.”
De acordo
com o último levantamento da Caixa Econômica Federal, nenhum trabalhador
conseguiu a revisão até hoje no Estado de São Paulo. O banco foi notificado de
14,7 mil ações e venceu em 10 mil. Em todo o País, há cerca de 39 mil processos
e pouco mais de 20 decisões favoráveis aos cotistas.
A
Defensoria Pública da União apresentou, na segunda-feira (3), uma ação coletiva
para pedir a correção a todos os que tiveram saldo no fundo a partir de 1999.
Isso não impede de o interessado entrar com processo individual, ou buscar seu
sindicato para se juntar a uma ação coletiva.
Oito
notificados na Paraíba e representação no Paraná
Na
Paraíba, a seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) abriu um
procedimento administrativo para investigar publicidade irregular sobre as
ações de revisão do FGTS. Até o início desta semana, oito escritórios já haviam
sido notificados por terem convocado clientes a entrarem com processos.
Segundo
uma fonte, a Caixa também fez uma representação formal à seccional da OAB
no Paraná em razão das condutas de advogados do Estado. Os profissionais
estariam informando que o banco errou nas correções, quando na verdade apenas
aplicou a lei atualmente vigente, que obriga o uso da Taxa Referencial, a TR.
O banco
deverá adotar a mesma medida em outros Estados, se a mesma conduta for
encontrada. A OAB do Paraná, procurada no fim da tarde, não se pronunciou.
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