Com PNE sancionado, governo federal deverá nos próximos dois
anos investir R$ 46,4 bilhões anuais em educação no Brasil
Entre as metas do Plano Nacional de Educação (PNE) estão a elevação do investimento do PIB em 10% para a educação e a erradicação do analfabetismo. Foto: AE. |
Bárbara Ferreira Santos - O Estado de S.
Paulo
SÃO PAULO - Com a sanção sem vetos da
presidente Dilma Rousseff ao Plano Nacional da Educação (PNE), nesta
quinta-feira, 26, a estimativa das entidades educativas é de que daqui a dois
anos o governo federal seja responsável por quase 1/3 do investimento com
ensino no Brasil, valor que chegaria a R$ 46,4 bilhões anuais.
Levantamento feito pela Associação
Nacional de Pesquisadores em Financiamento da Educação (Fineduca) com a
Campanha Nacional pelo Direito à Educação mostra que o gasto do governo
federal, em comparação aos Estados e municípios, passará de 18% em 2012 (última
coleta de dado liberada pelo Ministério da Educação) para 31% em 2016, quando
deve ser implementado o Custo Aluno-Qualidade inicial (CAQi) - o valor per
capita para se ter um padrão mínimo de qualidade na educação, que obriga a
União a cobrir Estados e municípios que não conseguirem alcançar esse patamar.
Já os repasses de Estados e municípios
vão quase se equiparar nesse período: passarão de 40% para 34% com Estados e de
42% para 35% com municípios.
Segundo esse estudo, a elevação dos
gastos do governo para as regiões com maior desigualdade permitiria que todas
as escolas atingissem o padrão mínimo - os dados revelam que hoje 99,4% das
escolas brasileiras estão abaixo desse patamar.
O aumento da participação do governo
federal nos gastos, contudo, pode ficar para depois de 2016. Isso porque uma
das próximas etapas para a execução do PNE é a definição das regras de
transição para o aumento de investimento. O plano prevê que os gastos do
governo saiam de 6,4% do PIB (5,5% com educação pública e mais 0,9% com
programas ligados a entidades privadas, como o FIES) para 10% em dez anos.
Um dos pontos mais polêmicos para o
governo no plano - que estava sujeito a veto - era exatamente o custo
aluno-qualidade. Segundo Alejandra Meraz Velasco, do Todos pela Educação, a
manutenção desse item representa um aumento da responsabilidade da União sobre
a educação básica. “O município, que é quem arrecada menos, repassava mais. A
União, que arrecada mais, era quem gastava menos”, ressaltou.
O crescimento do gasto deve ser
escalonado. A primeira etapa é garantir que as matrículas públicas no Brasil
passem a ter o padrão mínimo de qualidade, o que corresponderia a um aumento de
5,5% para 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB). A segunda etapa é elevar o
número de matrículas em todas as etapas de educação, de creches à Educação de
Jovens e Adultos. A última fase é a ampliação de 8% a 10% do PIB, com metas que
superem o padrão mínimo de qualidade, como a ampliação do projeto de formação
dos professores, fortalecimento da carreira docente e criação de 10 milhões de
matrículas na educação integral.
Essa divisão de gastos do PIB foi
convencionada no Congresso, durante as discussões do PNE. No entanto, não leva
em conta 0,9% destinado a projetos ligados a instituições privadas, como o
Fies. Isso levaria à variação dos investimentos do governo de 6,4% a 10%. O
desafio da gestão será decidir onde vai cortar investimentos com a inclusão de
iniciativas privadas na conta.
Gastos. Para o governo, só depois do
planejamento é que será possível falar em cálculo definitivo sobre o adicional
de recursos. “Não há uma definição do que é o CAQ, até a lei expressa que temos
de definir o que é o custo aluno-qualidade. Temos prazo de dois anos para (a regulamentação do) CAQi”,
disse o ministro da Educação, José Henrique Paim.
Para a presidente Dilma Rousseff, o
Brasil agora tem “um PNE à altura dos desafios educacionais do País”. “A
destinação de 75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social do pré-sal (para educação) vai tornar
realidade as metas do PNE”, escreveu em sua conta pessoal no Twitter.
O Estado de S. Paulo/ Colaborou Rafael Moraes Moura.
Presidente sanciona PNE
sem vetos
Entre
as metas, estão a elevação do investimento em educação para 10% do PIB ao fim
do decênio e a erradicação do analfabetismo
Bárbara Ferreira Santos
e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff
sancionou o Plano Nacional de Educação (PNE) nessa quarta-feira, 25, sem vetos
ao texto final aprovado no dia 3 no Congresso. A sanção, segundo a Secretaria
de Imprensa da Presidência da República, deve sair em edição extra do Diário
Oficial da União ainda nesta quinta, 26, mas não há horário definido para a
publicação.
Dilma sancionou o PNE na 4a feira (25). Foto: AE |
O texto tramitou por quase quatro anos no
Congresso Nacional e prevê 20 metas a serem atingidas nos próximos dez anos.
Entre as metas do PNE estão a elevação do investimento em educação para 10% do
PIB ao fim do decênio, a erradicação do analfabetismo, a oferta de educação em
tempo integral em no mínimo 50% das escolas públicas e a elevação do número de
matrículas na pós-graduação de modo a atingir a titulação anual de 60 mil
mestres e 25 mil doutores.
“Temos um PNE à altura dos desafios que o
Brasil tem pela frente”, disse o ministro da Educação, Henrique Paim, em
coletiva concedida a jornalistas nesta quinta. “Sabemos o quanto o PNE foi
construído a partir de várias discussões com a sociedade, movimentos
educacionais. Foi construído a partir de toda contribuição que o Congresso
Nacional deu e a presidente reconheceu todo esse esforço.”
Um dos pontos mais delicados do plano e
que estava sujeito a veto da presidente é a obrigação de a União cobrir Estados
e municípios que não conseguirem alcançar o desembolso mínimo de um novo
parâmetro de financiamento da educação básica, o Custo Aluno-Qualidade (CAQ),
conceito que estipula uma aplicação mínima por estudante.
Segundo o Estado apurou, o próprio MEC recomendou o
veto, mas a Casa Civil trabalhou pela manutenção do dispositivo. Questionado
sobre o assunto durante a coletiva, Paim respondeu: “Essa é uma discussão
interna do governo.”
O plano prevê que, após dois anos de
vigência do plano, ou seja, em 2016, será implementado o CAQ inicial (CAQi).
“Não há uma definição do que é o CAQ, inclusive a lei expressa que temos de
definir o que é o custo aluno-qualidade. Temos prazo de dois anos para (a
regulamentação do) o CAQi, tenho de definir o que é custo aluno-qualidade,
seria prematuro fazer qualquer tipo de cálculos sobre adicional de
recursos.”
Investimento. O Palácio do Planalto também resistiu à
meta de elevar o investimento em educação pública para 10% do PIB dentro de dez
anos, mas depois patrocinou uma manobra contábil no Congresso para maquiar a
conta e incluir, por exemplo, renúncia fiscal com o Programa Universidade para
Todos (ProUni) e parcerias firmadas com instituições privadas no Ciência sem
Fronteiras.
O ministro da Educação defende que esses
programas entrem na conta dos 10% do PIB voltados à educação, decisão mantida
pela presidente. "Se ofereço bolsas do Pronatec (Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), do Ciência sem Fronteiras, que são as
melhores universidades do mundo, estamos gerando oportunidades educacionais. Se
não tivermos parcerias com instituições privadas não conseguiremos avançar.
Tudo isso tem de ser contabilizado”, afirmou Paim.
Desde que o texto final foi aprovado no
Congresso, no dia 3, entidades educacionais pediram a Dilma que esse
investimento de parte do PIB fosse feito exclusivamente em escolas e
universidades públicas e que também fosse vetado o item que previa bonificação
às escolas que melhorarem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Esses vetos, contudo, também não foram realizados, segundo a assessoria.
Brasil tem hoje um PNE à
altura dos desafios educacionais, diz Dilma
Entre
as metas do plano estão a elevação do investimento em educação para 10% do PIB
ao fim do decênio
O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff
comentou nesta quinta-feira, 26, a sanção do Plano Nacional de Educação (PNE)
na sua conta pessoal no microblog Twitter. Para a presidente, o Brasil conta
hoje com um PNE "à altura dos desafios educacionais do País".
Sancionado sem vetos por Dilma, o texto foi publicado em edição extraordinária
do Diário Oficial da União (DOU) desta quinta.
O PNE estabelece as diretrizes das
políticas públicas na área para os próximos dez anos. Entre as metas estão a
elevação do investimento em educação para 10% do PIB ao fim do decênio, a
erradicação do analfabetismo, a oferta de educação em tempo integral em no
mínimo 50% das escolas públicas e a elevação do número de matrículas na
pós-graduação de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil
doutores.
"O PNE permite ampliar essas
oportunidades, partindo da educação infantil, passando pela educação em tempo
integral, o crescimento das matrículas da educação profissional e tecnológica,
a ampliação do acesso à educação superior", escreveu Dilma. "A
destinação de 75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social do pré-sal
(para educação) vai tornar realidade as metas do PNE."
Segundo Dilma, ao longo dos últimos 11
anos, foi criado "um caminho de oportunidades por meio da educação".
A presidente também ressaltou a importância da "valorização dos
professores" e o "aumento dos investimentos em educação."
"O Brasil tem hoje um PNE à altura
dos desafios educacionais do País", concluiu a presidente.
Resistência. Encaminhado pelo Palácio do Planalto ao
Congresso Nacional no final do governo Lula, o plano tramitou por três anos e
meio até chegar à mesa de Dilma. Uma das principais resistências do governo era
encontrada na meta de se alcançar o patamar de 10% do PIB para educação ao fim
de dez anos (atualmente, são 6,4%) - o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
chegou a afirmar que a medida ia "quebrar" o Estado brasileiro.
Para contornar a situação, o Planalto
patrocinou uma manobra contábil para incluir na conta, por exemplo, a renúncia
fiscal com o Programa Universidade para Todos (ProUni) e parcerias firmadas com
instituições privadas no Ciência sem Fronteiras. O governo defende a inclusão
desses programas na conta do investimento em educação.
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