Cortes na CAPES, alguma novidade?
- FaE/UFMG*
A comunidade acadêmica e científica
brasileira vive um alvoroço nos últimos dias devido a uma carta do Conselho Superior da CAPES ao Ministro da Educação
(aliás, duvido que mais de meia dúzia de pessoas saibam o nome do Ministro da
Educação!) em que os Conselheiros expõem que centenas de milhares de bolsistas
podem ficar sem pagamento a partir de agosto de 2019 caso sejam confirmados os
cortes anunciados no orçamento da CAPES para o ano.
No entanto, os cortes anunciados só
surpreendem àqueles e àquelas que estão muito desinformados ou não entenderam o
que está em curso no país. A diminuição do orçamento do MEC e, logo, da CAPES
para 2018 são apenas a ponta do iceberg da tragédia nacional que vem sem
arduamente construída pelo governo Temer e seus prepostos nos diversos
ministérios. Não se trata, pois, de nenhuma novidade ou casualidade.
A Emenda Constitucional do Fim do Mundo,
proposta e aprovada pelos golpistas, impacta cada vez mais as despesas sociais
do governo federal. Mas é sempre bom pensar que, antes da CAPES, várias outras
políticas e instituições já foram destruídas. Isto significa que há um projeto
em curso de destruição das possibilidades de desenvolvimento nacional, o que
passa pelo comprometimento da capacidade de formação de pesquisadores e de
produção de C&T no país. Nunca é demais lembrar que só se investe em
estrutura de C&T quando se tem um projeto de desenvolvimento nacional menos
dependente do capital estrangeiro, o que, como sabemos, é algo que o temeroso
governo golpista abomina.
Mas, não é apenas isso. Como sabemos, a
equipe que assumiu o MEC no governo golpista é a mesma que esteve com o FHC. E
o seu diagnóstico sobre o ensino superior e a pós graduação brasileira continua
o mesmo: elas são excessivamente públicas e, por isso, caras. Além disso,
teriam crescido desmesuradamente durante os governos Lula e Dilma. Seria
preciso, pois, para eles, estancar a sangria de recursos públicos dirigidos à
educação pública. Uma das formas sempre lembradas é o pagamento de mensalidade no ensino superior e da pós graduação e,
no caso da educação básica, o seu submetimento à lógica do mercado, conforme
tem continuamente alertado os(s) pesquisadores da área.
Se os golpistas continuarem vencendo,
nenhuma de nossas instituições públicas, mesmo aquelas que atendem
majoritariamente os andares de cima, terão suas continuidades asseguradas. Por
isso, a única forma de sustarmos minimamente a continuidade da destruição das
políticas públicas, sobretudo aquelas que afetam a vida das populações mais
pobres, é aumentarmos a nossa capacidade de organização e, no curto prazo,
ganharmos as eleições deste ano.
*É professor Titular da Faculdade de Educação da
Universidade Federal de Minas Gerais, onde coordena o Projeto Pensar a
Educação, Pensar o Brasil - 1822/2022. Licenciatura em Pedagogia pela
Universidade Federal de Minas Gerais (1988), mestrado em Educação pela
Universidade Federal de Minas Gerais (1991) e doutorado em Educação pela
Universidade de São Paulo (1996).
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