terça-feira, 10 de janeiro de 2023

GOLPE ABORTADO

'Golpe abortado'

Por Frei Betto* 

Invasão de terroristas nesse domingo (8/1/2023) em Brasília, onde milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foram protestar contra a vitória na eleição de 2022 do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Inconformados com a derrota em 2022 do ex-presidente, bolsonaristas radicais (terroristas/golpistas) invadiram e depredaram prédios públicos, como o Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional [Câmara e Senado]. As forças de Segurança Nacional conseguiram coibir milhares de manifestantes e prender centenas de invasores e vândalos que destruíram o patrimônio público na Praça dos Três Poderes na Capital do País. Lula venceu a disputa no segundo turno, em 2022, sendo ele eleito de forma legitima com 60.345.999 votos, o que representou, à época, 50,9%, contra os 58.206.354 votos em Bolsonaro que resultou em 49,1%. Avaliações das urnas eletrônicas eleitorais demonstraram que elas são seguras e todas passaram por auditorias de especialistas no Brasil e  analistas internacionais. As urnas eletrônicas são criptografadas, geram boletins impressos no início das votações, de 'zero votos' [zerésima] aos candidatos, e, em seguida, são realizadas a apuração e totalização do resultado da eleição que é proclamada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).  Nunca houve registro de fraude eleitoral desde a adoção do voto eletrônico, em 1996. Foto: Evaristo Sa/AFP.

Ao destruir os palácios dos três poderes no domingo, 8 de janeiro, em Brasília, os terroristas bolsonaristas mostraram as caras e as garras. Trumpistas miméticos, reproduziram aqui em dimensões mais amplas o vandalismo ocorrido no Capitólio, em Washington, há dois anos, numa demonstração cabal de que seu lema é “ditadura sim, democracia não!”.

A segurança falhou por cumplicidade do governador de Brasília, Ibaneis Rocha, e seu secretário de Segurança, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. A Polícia Militar da capital federal, responsável pela defesa do patrimônio nacional, facilitou a ação dos criminosos e só prendeu alguns vândalos após Lula decretar intervenção federal na segurança pública de Brasília.

As Forças Armadas se omitiram, em evidente postura de apoio tácito ao terrorismo. Aliás, as “incubadoras de terroristas”, como bem qualificou o ministro da Justiça, Flávio Dino ao se referir aos acampamentos bolsonaristas diante de quartéis, afinal chocaram o ovo da serpente. A Justiça brasileira cometeu o grave erro de, nos primórdios da redemocratização do país, em meados de 1980, não punir com rigor os assassinos e torturadores a serviço da ditadura militar que se apossou do país durante 21 anos (1964-1985). Tivesse seguido o exemplo da Argentina, do Uruguai e do Chile, o Brasil teria separado o joio do trigo.

Porém, um recurso esdrúxulo, a “anistia recíproca”, impede que haja punição a quem, em nome e a soldo do Estado, torturou, matou, sequestrou e fez desaparecer opositores do regime militar. Bolsonaro, cuja trajetória familiar é comprovadamente vinculada às milícias, como o demonstra o livro “O negócio do Jair – a história proibida do clã Bolsonaro”, de Juliana Dal Piva (Zahar), a tudo assistiu de seu camarote em Miami. Na mesma cidade se encontrava de férias Anderson Torres, agora demitido do governo do Distrito Federal.

Felizmente se abortou o golpe pela ação enérgica de Lula, do ministro da Justiça Flávio Dino e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A turba ensandecida foi expulsa dos palácios da República e presos três centenas de vândalos. Resta agora descobrir e punir quem financiou as caravanas terroristas a Brasília e por que as Forças Armadas se mantiveram em gritante silêncio.

Frente ao autoritarismo só há um antídoto: mais democracia. E isso significa reforçar a participação popular no governo Lula. A governabilidade não pode depender apenas das tratativas parlamentares e da anuência das Forças Armadas. É imprescindível que a sua principal sustentação seja o povo politizado e organizado.

Não é com o teto de gastos que o governo Lula deve se preocupar. É com o chão firme da mobilização popular.

É escritor, autor de "Cartas da Prisão" (Agir), "Diário de Fernando - nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco), ‘Batismo de Sangue’ (Rocco) e ‘Tom vermelho do verde' (Rocco), entre outros livros.


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