domingo, 10 de fevereiro de 2013

PLÁGIO - 171 MUSICAL: Letras e composições musicais de Pedro Boi foram plagiadas no interior de SP

15 músicas do cantor Pedro Boi foram plagiadas por músico paulista, diz reportagem do Estadão

LP (Longplay) Passarim, de Pedro Boi, foi plagiado.
Deu, sábado (9/2), no jornal O Estado de S. Paulo matéria intitulada 'Balada número 171' na qual noticia o plágio de 15 músicas do álbum Passarim, do cantor e compositor Pedro Boi, que mora em Montes Claros-MG. As obras foram plagiadas na sua essência musical - o conteúdo - pelo músico paulista Nelson Moralle Junior, radicado em São Roque, interior do Estado de São Paulo.

De acordo com o compositor Marcelo Ribeiro, amigo de Pedro Boi, “Nelsinho Moralle é um plagiador. Em nada difere de um ladrão de obras de arte", diz Ribeiro.


A seguir, confira a íntegra da matéria publicada no site do ESTADÃO, jornal como é mais conhecido no meio jornalístico e na Internet.

Balada número 171

Por que as músicas de Pedro Boi foram parar no disco de um homem chamado Nelson Moralle? A resposta lembra uma sinistra obra de ficção

Nelson Moralle acusado de fraudar letras e músicas do compositor montesclarense [por adoção] Pedro Boi. Foto: JF Diorio/AE
Reportagem de Julio Maria - O Estado de S.Paulo

Nelson Moralle Junior existe. É um homem moreno, cabelos grisalhos, estatura média, acabou de comprar um violão e mora com a mãe em uma casa simples numa das principais ruas de São Roque, no interior de São Paulo. Sua fala é baixa, seu olhar não vacila e, não fosse uma incontinência verbal que o faz repetir a frase "cê tá me entendendo?" quando aparenta nervosismo, seria um mestre da persuasão. Nelson Moralle existe, mas o mundo que habita pode ser uma assustadora obra de ficção.
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A faísca que virou fogueira nas redes sociais chama-se Naturalmente Brasileiro, um CD lançado por ele em 2010. A capa tem o rosto e o nome de Nelson Moralle e o encarte traz uma lista de 15 músicas, todas creditadas a ele como compositor. O nome de Almir Sater aparece como "produtor e arranjador" do álbum, além de parceiro de Moralle na música Vida de Violeiro. Os logos das empresas Caixa Econômica Federal e Petrobrás estão na contracapa, como se fossem patrocinadoras do projeto. Além do CD, o material traz um DVD com um documentário chamado Quilombolas. Foi com esse material que Moralle se apresentou em casas de show, programas de TV, deu entrevistas a rádios e rendeu matérias em jornais. Ele afirma que fechou 2012 com 102 apresentações, cobrando cachês que vão de R$ 1,5 mil a R$ 6 mil.

Em 2011, Moralle foi entrevistado por Antonio Abujamra no programa Provocações, da TV Cultura, como líder de uma comunidade quilombola de São Roque. Chegou a ser apresentado por Abujamra como exemplo de superação, um homem que aprendeu a ler e a escrever aos 35 anos. Em outro programa, do Canal Rural, é descrito pela apresentadora como "um músico com 30 anos de carreira que já trabalhou com Clara Nunes, João Bosco e Alceu Valença". Uma trajetória perfeita, se o mundo não fosse um pouco menor do que Moralle imaginou.

A 832 quilômetros de São Roque, em Montes Claros, Minas Gerais, o cantor e compositor Pedro Boi atendia clientes em seu bar quando um amigo chegou intrigado: "Acho que ouvi alguém cantando uma música sua lá no Recife". Um tempo depois e Pedro, 59 anos e 35 de carreira, recebeu de outros amigos de São Paulo o CD com o nome de Nelson Moralle na capa. Ao ouvi-lo, seu coração foi à boca e seus instintos primitivos afloraram. "Eu só queria matar aquele moço", diz. As 15 músicas do disco Naturalmente Brasileiro eram exatamente as mesmas gravações que estavam em seu álbum, Passarim, lançado dois anos antes. Mais do que plágio, as canções que apareciam no CD de Moralle, diz Pedro, haviam sido "transferidas" para o disco de Nelson. Ou seja, Nelson estaria dublando sobre a voz do mineiro e assumindo as autorias de suas canções, mudando apenas o título de cada uma delas no encarte do disco. Romance de Colibri, assinada por Pedro e seu parceiro Braúna, virava Colibri Apaixonado; Su aparecia como Sereia de Água Doce; Meu Cavalo se Chama Disco Voador, também de Pedro e Braúna, ganhava o nome de Histórias de Pescador.

A saga de como as músicas do disco de Pedro chegaram às mãos de Nelson é contada pelo mineiro, que diz ter hoje dificuldades para ouvir o próprio disco. "Não consigo. Logo me vem à mente o rosto dele e eu fico louco de raiva." Pedro narra que, depois de conhecer suas canções em um show em Porto Seguro, na Bahia, Nelson ligou para sua casa pedindo uma cópia de seu disco. Apresentou-se como um funcionário do Sesc que gostaria de agendar shows para o músico em São Paulo. Nelson teria ainda ligado outras vezes, pedindo o número do protocolo dos Correios para localizar o disco. Pedro passou os dados e esperou pela data de show. "Ele nunca mais atendeu aos meus telefonemas", diz Pedro.

A reportagem foi primeiro atrás dos nomes e das empresas citadas no encarte do disco de Nelson Moralle. Almir Sater seria mesmo o produtor e arranjador do CD, além de parceiro de Moralle em uma das canções? "Eu? Nunca ouvi falar o nome desse rapaz", diz o violeiro. A Petrobrás seria mesmo uma das empresas patrocinadoras do projeto, conforme indica a contracapa do disco? "Não encontramos em nossos arquivos registro de patrocínio ao projeto mencionado." E foi além: "Estamos analisando eventuais medidas cabíveis, diante do uso indevido da logomarca", informou, por meio de sua assessoria de imprensa. Segundo a empresa, o logo usado no material não condiz com a marca impressa em projetos patrocinados no Brasil. A Caixa Econômica Federal também não encontrou nenhum registro de patrocínio, nem no nome do artista nem da empresa que seria a proponente, segundo Nelson Moralle: a JMSMusic. José Martins, responsável pela JMS Music, diz que não é proponente nem responsável por captação de recursos. "A única coisa que fiz aqui foi imprimir as cópias do disco, que já chegou gravado."

O Ecad, escritório central que cuida dos direitos autorais no Brasil, registra várias das músicas que estão no disco de Nelson Moralle em nome de Pedro Boi: Francisco, Jequitaí, Mariana, Meu Cavalo se Chama Disco Voador, Meu São João, Passarim Cantadô, Passarinho Canoro, Romance de Colibri, Saudade da Vila, Su, Tem Dó, Ventania e Zumbi. Não há nenhum registro no nome de Nelson Moralle Junior. Na esteira de Pedro Boi, outras autorias assumidas por Nelson começaram a ser contestadas. "Nelsinho Moralle é um plagiador. Em nada difere de um ladrão de obras de arte", diz o compositor Marcelo Ribeiro, amigo de Pedro Boi. A cantora baiana Ju Motta chegou a gravar Romance de Colibri, "cedida" por Nelson Moralle, em um disco que não chegou a lançar. "Eu não sabia que a música era do Pedro Boi e do Braúna, fui uma vítima", diz. "Ele me fez assinar um contrato para 23 shows na Europa, mas os patrocínios nunca saíram", conta outra cantora, France da Matta, que chegou a namorar Moralle.

A delegacia de São Roque registra uma prisão preventiva de Moralle, em 2006, por falsificação de documento e estelionato. Uma outra condenação saiu em 2008, em Sorocaba, por parcelamento irregular do solo. "Fui preso por uma armação política", diz Moralle. A reportagem encontrou com ele em um café de São Roque. Moralle levou o violão, rebateu as acusações e se disse vítima de uma perseguição. Quando a reportagem pediu que ele tocasse as músicas que estão em seu disco, ele disse que não sabia. 
TRAJETÓRIA DE PEDRO BOI
Violonista, compositor, cantor e pesquisador de fatos verídicos de sua região, no norte das Minas Gerais, relacionado à luta pela terra, a guerra entre grileiros e posseiros, Pedro Boi transforma tudo isso em música, além das letras românticas, caipiras, o jeito simples de ser e dizer o que pensa. Esse mineiro é um dos artistas brasileiros que luta pela música da terra.
Pedro Boi e seu inseparável violão.
Pedro Boi nasceu num 29 de junho. Pedro Raimundo dos Reis, o Pedro Boi é da cidade de Ibiracatu e veio para Montes Claros com sete anos de idade. Ele conta que seu primeiro instrumento foi a sanfona que ganhou de presente do pai. O primeiro cachê já recebeu com 11 anos de idade, quando tocou em uma festa de quadrilha.
Na maior cidade da região teria mais oportunidade. Começou tocando sanfona nos grêmios infantis ou onde houvesse uma festinha: fossem os quintais ou as salas da Vila Brasília. Dali veio a inspiração e o contato com seu primeiro parceiro, Ildeu Braúna.
Começou fazendo músicas para "tentar conquistar as menininhas". E como as conquistas apareceram: foram muitas as namoradas. As canções, às vezes, eram as mesmas. Mudava-se apenas os nomes das garotas.
A partir deste início, a parceria foi crescendo e novos interesses pairavam sobre sua cabeça: os problemas sociais, os conflitos, a ditadura vivida na pele. Tudo se refletia nas músicas que já apareciam, aqui e acolá, em festivais. Alguns modestos, como os da Escola Normal. Outros, mais arrojados, como o Festival Universitário (Fucap) e Festival Rímula.
Figura mais carismática, atraiu outros parceiros e interesses, surgindo assim o Grupo Agreste, banda de música montes-clarense. E bastaram algumas apresentações nas cidades do Norte de Minas para se consolidar a parceria dos rapazes. O cantador Téo Azevedo, então um veterano produtor em São Paulo, ouviu o grupo, gostou e viabilizou uma gravação.
Era o começo da década e 80 quando saiu o primeiro disco, pelo selo Cristal, que estorou como uma bomba, não só na região, mas em todo o Brasil. Carente deste tipo de música - a regional inteligente - foram parar na novela da TV Bandeirantes, "Rosa Baiana". As músicas eram Zumbi e Jaíba, parceria de Pedro Boi com o poeta Ildeu Braúna.
O segundo disco do Grupo Agreste foi lançado em 1982 e seguia o lado de obra prima do primeiro. Os sucessos, como a "Lenda do Arco Íris" e "Quebra Milho" (gravada depois pela dupla Pena Branca & Xavantinho, com participação de Renato Teixeira) ainda hoje repercutem nas reuniões informais e também nas formais, quando alguém sempre apanha um violão e se põe a cantar. O Grupo Agreste passou, como passou a Banda de Chico Buarque.
Pedro Boi continuou músico, compositor dos bons e, como o violão em punho, seguiu seu caminho compondo, agora não só com Braúna, mas também com Manoelito (José Manoel), Guita, Charles Boavista (ex-Grupo Raízes) e Téo Azevedo entre outros, mostrando a arte norte-mineira, no que ela tem de maior valor.
As parcerias renderam três discos, sendo dois em vinil e um CD.O primeiro disco, "Coração Estradeiro", chegou no fim da década de 80. Nele, uma mostra do caminho andado, dos amores passados, da vida vivida. Um retorno ao seu estado mais puro. Muita pesquisa, muita saudade. E o futuro para ser construído a partir dali.
Os shows foram se sucedendo, outras melodias foram sendo criadas, o segundo disco solo, em 1993.
"Passarim", ainda em vinil, mostrava não uma retomada, mas um alerta. Não sobre ecologia, já em suas veias desde o início da caminhada ainda na distante Ibiracatu, hoje transformada em cidade progressista. Um disco sério, com um conteúdo para intrigar e instigar quem ouve.
E deste trabalho sério surgiram os olhos dos cantores nacionais. Como Sérgio Reis, que gravou "Passarim Cantadô". O mesmo aconteceu com Saulo Laranjeira.
Mas o progresso vem e vai. O vinil passou. Agora, sozinho, mais seguro de si, mais vivido, mais compositor e músico, com todas as experiências passadas. E o novo disco, em CD, traz "Passarim" com acréscimos e ainda contou com participações especiais de Saulo Laranjeira, Grupo Vocal "Nós & Voz" e Mariana
Morena. E que bons acréscimos, tão esperados. São músicas novas e regravações dos discos anteriores.
Para marcar este início, pois Pedro Boi reinicia sempre, reinventa o inventado. E cria. Agora, é parar e ouvir "Passarim", seguindo o sábio conselho do velho mestre Zé Coco do Riachão: "Quem qué aprendê vai e vai, que a temusia e a ceguêra de hum home, quando qué uma coisa, as vêz, é bem maió que ele."
Após fazer show por praticamente todas as cidades norte-mineiras, Boi partiu para a capital mineira, onde o trabalho de divulgação foi seu principal objetivo. Ali cantou em diversos eventos e formou a Banda do Boi Bonito, que é especialista em apresentações de forró. "Mas o forró legítimo, aquele de pé de serra", diz ele, influenciado por Luiz Gonzaga e Dominguinhos.
Fonte: Portal R7/ http://www.r7.com/

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