segunda-feira, 9 de junho de 2014

CONCRETO x VERDE: Reserva ambiental verde em Manga (MG) pode virar construção de concreto para práticas poliesportivas em pleno centro da cidade

Em lugar do verde, a Prefeitura de Manga pode transformar o Parque Uirapuru em edificações de concreto para prática de ‘Skate’
Reserva ambiental do Parque Uirapuru, em pleno centro de Manga (MG),  pode virar concreto de edificações para práticas poliesportivas. Foto: Site Prefeitura de Manga jun. 2014.
MANGA (MG) - O que prometia ser uma montanha de boas ideias da administração do petista Anastácio Guedes em Manga, está prestes a parir um rato. A Prefeitura de Manga realiza, por esses dias, uma enquete com os jovens [por que só eles?] para saber qual será a melhor forma para uso do Parque Uirapuru, espaço situado em área nobre da cidade, ideal para se instalar uma área verde, que tanta falta faz à população local.

O surto democrático [e porque não dizer, demagógico] do prefeito parte de uma premissa errada, pois todas as alternativas sugeridas implicam em cobrir de concreto o terreno do Parque, com as opções em análise de construção de quadra poliesportiva, espaço cultural e as tais pistas de Cooper, ciclismo e skate, além de uma academia ao ar livre. Uma pena. O Parque Uirapuru foi pensado pelo então prefeito Humberto Salles, durante seu primeiro mandato (1989/1992) e tem, desde sempre, vocação para ser invejável espaço para o verde, em saudável contraste com a aridez do sertão e a concretude de cimento e asfalto que tomou conta do seu entorno.

Por questão de justiça e apreço histórico, mister destacar que Humberto Salles foi o único mandatário a pensar a cidade em plano estratégico ao longo dos últimos 40 anos. Durante aquele primeiro mandato, ele criou as bases para obras importantes para a pequena urbe, casos do estádio municipal, a rodoviária e o Parque Uirapuru – esses dois últimos não concluídos pelo então prefeito que, se soube pensar a cidade para o futuro, não levou em conta que isso exigiria recursos dos quais o município não dispunha. O fato de ter sido cassado nas duas vezes em que conseguiu chegar ao cargo não tira o mérito que ele indubitavelmente teve de pensar a cidade um degrau acima da mediocridade de sempre.

O tempo passou e o Parque Uirapuru virou esse elefante branco que todos conhecemos e para o qual o prefeito Anastácio, mais de 20 anos depois, avalia ter a solução. Infelizmente meia-boca, a julgar o que se propõe. Como assim, pode perguntar o leitor mais atento. Para início de conversa, o atual prefeito chegou a anunciar uma grande obra para urbanização do parque e agora vem com essa conversa mole de pista disso e pista daquilo.

Prestes a chegar ao seu primeiro centenário, Manga estar a merecer um pouco mais de criatividade e visão de futuro dos seus governantes. Há quase três anos, durante a gestão do ex-prefeito Quinquinha Oliveira (PTdoB), a lagoa do Parque Uirapuru passou por etapa de limpeza até então inédita, quando foram retiradas de lixo do seu leito. Anastácio também fez a sua limpeza no local, mas parece faltar a ambos projeto que desse melhor destino ao local.

Cartão-postal
O Parque Uirapuru é uma grande possibilidade para a cidade criar um belo cartão-postal e, ao mesmo tempo, uma espécie de ’pulmão’ verde em local estratégico que, respeitadas as devidas proporções, seria algo nos moldes do Central Park (Nova Iorque), do Parque Ibirapuera (São Paulo), Parque da Cidade (aqui em Brasília), além dos parques dos Buritis e Vaca Brava (Goiânia), só para ficar em alguns de tantos outros exemplos possíveis. É óbvio que, em um segundo momento, esse hipotético parque vai demandar a óbvia da construção da pista de Cooper ou outro equipamento público na mesma linha. Mas isso seria depois. Antes disso, é necessário definir como será esse futuro Parque Uirapuru, de feliz escolha até mesmo no nome do pássaro.

A boa notícia é que a urbanização do Parque exigiria investimento relativamente baixo. Em um primeiro momento, seria necessário reinstalar o alambrado que atualmente faz do local espaço desejado para pastagens de animais. No mais, o projeto de arborização que vai definir as espécies vegetais que melhor resultado acrescentaria ao lago natural que será, se um dia sair do papel, o ponto alto do futuro Parque.

No mundo das coisas reais, a Prefeitura de Manga trata a urbanização do Parque Uirapuru com certa dose de improviso, característica que ameaça ser a marca registrada do seu governo. Sugeri, há algum tempo, em texto publicado aqui neste espaço, que projeto da envergadura do Parque Uirapuru seria digno de concurso voltado aos especialistas em urbanismo para mostrar qual o melhor caminho para fazer daquele espaço algo de que os manguenses possam se orgulhar pelo próximo século. Pelo menos.

Penso que Anastácio não pode repetir o fiasco que foi a frustrada tentativa de urbanização do Parque Uirapuru levada adiante durante o primeiro mandato do ex-prefeito e seu aliado Humberto Salles, há 23 anos. Muito dinheiro público foi jogado fora naquela ocasião, em investimentos que ficaram no meio do caminho. Salles, no entanto, foi feliz ao pensar no parque para embelezar o entorno da lagoa.

Uma das propostas de Anastácio para preencher o espaço do parque seria a construção de uma praça. Não é uma boa ideia. Muito embora Manga só conte com três praças em quase 100 anos de existência, o Parque Uirapuru fica praticamente ao lado de duas delas. A cidade precisa de muitas, muitas praças, mas não exatamente no centro.

O que há de concreto [sem trocadilhos], é que, sob verniz democrático, o prefeito Anastácio se prepara para fazer mau uso do melhor espaço disponível em Manga, pronto para que qualquer prefeito que enxergue mais longe deixe obra de peso e marca pessoal da sua passagem pelo cargo. Coisa que não se resolve com enquetes via internet, ainda mais direcionada para parte da população em detrimento do todo. Nunca é demais lembrar que o Parque Uirapuru já cedeu espaço para um clube e quadra poliesportiva, que se transformaram em sucatas urbanas de pouca ou nenhuma lembrança. Para infortúnio dos pequenos municípios, não são só recursos que faltam para tornar a vida das pessoas melhores. Tudo indica que também faltem boas ideias.

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