sábado, 5 de abril de 2014

RIO SÃO FRANCISCO: O leito do ‘Velho Chico’ está seco em alguns trechos em Pirapora e a travessia de balsa poderá ter obstáculos em seu curso d'água nas cidades ribeirinhas do NM

Fechamento das comportas da Usina de Três Marias esvazia leito do rio São Francisco
O leito do Rio São Francisco está praticamente seco em alguns trechos em Pirapora, como nas proximidades da histórica ponte Marechal Hermes. Foto: Xu Medeiros.
Luiz Ribeiro – Jornal Estado de Minas/BH –  em.com.br
Enquanto Belo Horizonte e a região Metropolitana enfrentam temporais, inundações e alagamentos, como os ocorridos na capital na terça, na quarta e na quinta-feira, em alguns locais no Norte de Minas o leito do Rio São Francisco, o “Velho Chico”, está praticamente seco, em decorrência da redução da vazão da Usina de Três Marias. A diminuição do volume de água liberado pelas comportas da represa, determinada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), criou um cenário de desolação que moradores mais antigos da região afirmam nunca ter visto desde a inauguração da usina, em 1962.

Em Pirapora, o problema é mais grave e visível nas chamadas duchas do Rio São Francisco, localizadas próximo à histórica ponte Marechal Hermes e consideradas uma atração turística do município. A drástica diminuição do volume do Velho Chico gera danos ambientais, ameaçando a sobrevivência dos cardumes. Também dificulta a navegação e provoca outra apreensão: a possibilidade de comprometer a captação de água para o abastecimento da cidade.

A situação piorou devido à falta de chuvas nos últimos três meses. De acordo com o Centro de Climatologia (Climatempo) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), o índice pluviométrico na região de Três Marias no primeiro trimestre foi o pior dos últimos 10 anos, em torno de 150 milímetros, enquanto a média histórica no período varia de 300 a 400 milímetros. Por conta da falta de chuvas, o reservatório de Três Marias está com apenas 19% de sua capacidade. A ordem do ONS levou à redução da vazão da usina de 500 mil litros por segundo para 250 mil. E o pior ainda está por vir, pois já há orientação para que a partir do dia 15 a vazão passe para 200 mil litros por segundo. O quadro só vai melhorar quando voltar a chover. Porém, segundo o serviço de meteorologia, pelo menos para este mês não existe previsão de quantidade de chuvas suficiente para reverter a situação.

Pirapora , cidade com cerca de 51 mil habitantes, sofre mais com os efeitos da diminuição da vazão de Três Marias por causa da sua localização, a apenas 168 quilômetros da represa. No trecho entre a hidrelétrica e o município, o São Francisco recebe água de apenas um afluente de maior porte, o Rio Abaeté. Outro fator negativo é que,  com a vizinha Buritizeiro, o município fica situado acima da foz do Rio das Velhas, um dos principais afluentes da margem direita do Velho Chico. Assim, as chuvas em algumas áreas, como a Região Metropolitana de Belo Horizonte, contribuem para melhorar a vazão do Rio das Velhas e chegam ao São Francisco, mas não beneficiam o município.

“Estamos muito preocupados. Se não chover nos próximos dias, a situação vai piorar e o impacto no turismo será muito grande”, alerta Anselmo Matos, presidente da Empresa Municipal de Turismo de Pirapora (Emutur). Morador de Pirapora, o ambientalista Roberto MacDonald salienta que a redução da vazão ameaça a vida no Velho Chico, diminuindo a quantidade de peixes. Ele frisa que as lagoas marginais servem para a reprodução dos peixes da bacia. “Mas, neste ano, muitas lagoas estão secando com os peixes dentro delas. Isso será uma catástrofe. Os cardumes estão sendo dizimados de forma gradativa”, diz MacDonald. “A vazão do São Francisco foi reduzida de tal forma que, nos lugares em que o rio tinha 700 metros de largura, hoje está com 200 ou 300 metros”, observa o ambientalista.

ABASTECIMENTO EM RISCO A situação também é muito preocupante no que diz respeito ao abastecimento de água em Pirapora. O diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) do município, Esmeraldo Pereira Santos, disse que já estão sendo enfrentadas dificuldades para captar a água do rio. Ele informou que, com a redução da vazão do São Francisco, o SAAE teve que fazer alguns serviços emergenciais, como a limpeza e desassoreamento do canal onde a água é recolhida. “Estamos no nosso limite. A situação é gravíssima. Se não chover e o volume liberado baixar para até 200 metros cúbicos por segundo, o abastecimento de Pirapora será comprometido”, disse Esmeraldo. Ele lembra que cerca de 70% da população da cidade (aproximadamente 40 mil pessoas) são abastecidos com água retirada do Rio São Francisco.

Além de Pirapora, outros municípios do Norte de Minas estão tendo dificuldades causadas pela determinação do ONS de diminuir a vazão de Três Marias. Em praticamente toda a extensão do rio, o nível da água baixou muito e em vários pontos surgiram ilhas e bancos de areia, deixando o leito com poucos centímetros de água. Nos municípios de São Francisco e Itacarambi, o baixo volume das águas dificulta a travessia de balsa. Os pontos de travessia tiveram que ser mudados. Também já começam a aparecer obstáculos para travessia de balsa entre Manga e Matias Cardoso. “Na verdade, o São Francisco vem perdendo volume ano a ano, mas agora a situação está pior, totalmente fora do normal”, lamenta o barranqueiro Francisco Guedes da Silva, de 55 anos, o “Marujo”, que vive praticamente dentro do Velho Chico, em Januária, também no Norte do estado. Ele ganhou o apelido porque é dono de um barco, que aluga para pescadores ou pessoas que queiram passear no São Francisco.

Morador se esforça para liberar rodovia
A tempestade de quinta-feira também atingiu a MG-020, uma das ligações entre BH e Santa Luzia. O temporal causou problemas em pelo menos cinco pontos da rodovia, o que complicou a circulação dos veículos ontem.. O maior problema foi um alagamento que interrompeu o trânsito nos dois sentidos , além do o afundamento no asfalto que bloqueou uma das pistas. No Km 14, onde a água inundou todas as faixas em direção à capital, a atitude de um morador do Bairro Monte Azul chamou a atenção dos vizinhos e de quem passava pelo trecho. Sozinho, ele entrou na área alagada e conseguiu encontrar um bueiro. Após tirar pedaços de plástico e até um vidro de automóvel, em poucos minutos a água escoou e resolveu o problema.

“Já fiz isso outra vez, é muito lixo que as pessoas jogam. Como ninguém apareceu para resolver a questão, achei melhor desentupir de novo”, afirma Paulo da Silva Gomes, 48 anos. Ele conta que há cerca de 12 anos, quando uma grande obra ampliou a rodovia, os alagamentos se tornaram frequentes. A parte antiga da pista virou marginal, que corta o Bairro Monte Azul. “O problema é que como estava alagado, eles desviaram o trânsito para a marginal, passando pelo bairro. Carretas e ônibus começaram a rodar em um lugar muito perigoso, onde várias crianças brincam o tempo todo. A chance de alguém ser atropelado é muito grande”, diz o pintor.

Uma curva muito perigosa esconde os veículos pesados da vista dos transeuntes, o que realmente cria um risco para a população local. Na quinta-feira, Paulinho conta que ficou no local até a noite, como se fosse um guarda de trânsito. “Eu orientava os motoristas a passar nos trechos mais rasos, onde a água não tinha subido muito. Fiquei até tarde”, completa.

Depois que a água escoou muita lama restou no local, assim como em outros três pontos entre os kms 11 e 14. No Km 12, a estrada se transformou numa pista de terra, com desnível típico de rodovias vicinais sem pavimento. No Km 11 o temporal causou o afundamento da pista da direita. Cavaletes foram colocados para bloquear o trecho e evitar acidentes.

NOTA DO DRE Em nota, o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG) não explicou os motivos de um morador ter resolvido o problema do alagamento antes que o órgão tomasse uma providência. O DER/MG informou apenas que com a desobstrução do bueiro o tráfego foi liberado. Sobre os problemas do Km 12, foi informado que houve queda de barreira e que funcionários da autarquia já estavam providenciando a limpeza. Quanto ao Km 11, onde há indícios de rompimento da galeria pluvial, segundo as primeiras avaliações, o DER informou que “não há prazo para a resolução total do problema. Provavelmente será demandado um projeto e abertura de licitação para as obras”, diz o texto. (GP).

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